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Crítica

The Cure

: "Songs of a Lost World"

Ano: 2024

Selo: Universal Music

Gênero: Rock

Para quem gosta de: David Bowie e Depeche Mode

Ouça: Alone, Endsong e A Fragile Thing

8.5
8.5

The Cure: “Songs of a Lost World”

Ano: 2024

Selo: Universal Music

Gênero: Rock

Para quem gosta de: David Bowie e Depeche Mode

Ouça: Alone, Endsong e A Fragile Thing

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2024

O avanço lento da introdutória Alone é essencial para entender aquilo que Robert Smith e seus parceiros de banda no The Cure buscam desenvolver em Songs of a Lost World (2024, Universal Music). Mais do que um simples retorno do grupo inglês após um intervalo de 16 anos, o sucessor de 4:13 Dream (2008) é uma verdadeira jornada instrumental e poética através do tempo. São composições que tratam sobre a iminente aproximação da morte e o fim de tudo aquilo que conhecemos, como uma melancólica carta de despedida.

A exemplo de David Bowie em Blackstar (2016) e Bob Dylan em Rough and Rowdy Ways (2020), Songs of a Lost World se sustenta na formação de canções que tratam sobre indivíduos solitários e deslocados, como se grande parte das relações, amores e amizades conquistadas no decorrer da vida tivessem se esgotado. A própria imagem de capa do disco, uma criação de 1975 do escultor esloveno Janez Pirnat (1932 – 2021), representa isso de forma bastante eficiente, surgindo como as ruínas de um rosto consumido pelo tempo.

Apesar da intensa carga emocional e escolha de Smith em investir na formação de uma obra que avança em uma medida particular de tempo, Songs of a Lost World está longe de parecer um trabalho arrastado. Assim como fez em Disintegration (1989), o músico britânico e seus companheiros de banda se aventuram na produção de composições paisagísticas e sempre marcadas pelos detalhes. São incontáveis camadas instrumentais que surgem e desaparecem a todo instante, evidenciando o capricho do grupo em estúdio.

Se por um lado esse direcionamento esbarra em repetições estruturais e arranjos que se assemelham em excesso aos antigos trabalhos da banda, por outro, destacam a construção dos versos que a todo momento parecem alavancados pela fluidez dos arranjos. Como indicado na própria faixa de encerramento do disco, Endsong, são longos atos instrumentais que se estendem pelo tempo que necessário, revelando entre um movimento do grupo e outro a passagem para algumas das letras mais dolorosas já produzidas por Smith.

Tudo se foi / Não sobrou nada de tudo que eu amava”, canta na já citada música de fechamento. É como se o artista transportasse para dentro do álbum toda a dor acumulada desde a última empreitada da banda em estúdio. Dos últimos momentos de um casal em A Fragile Thing, passando pela dolorosa relação com a morte em I Can Never Say Goodbye, inspirada pelo falecimento do próprio irmão, Richard, poucas vezes antes Smith pareceu tão brutalmente honesto e íntimo do ouvinte quanto nas canções do presente disco.

Toda essa intensa carga emocional e meticuloso processo de composição faz de Songs of a Lost World o trabalho mais impactante do grupo desde Wish (1992), há mais de três décadas. Liberto de possíveis excessos, Smith e seus companheiros de banda se concentram na produção de um repertório enxuto, porém devastador. Composições que trazem de volta o lirismo confessional que alavancou a carreira do The Cure em meados dos anos 1980, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o presente.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.