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Crítica

The Smile

: "A Light for Attracting Attention"

Ano: 2022

Selo: XL

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: You Will Never Work... e Free In the Knowledge

8.5
8.5

The Smile: “A Light for Attracting Attention”

Ano: 2022

Selo: XL

Gênero: Art Rock

Para quem gosta de: Radiohead e Atoms For Peace

Ouça: You Will Never Work... e Free In the Knowledge

/ Por: Cleber Facchi 25/05/2022

De tempos em tempos, Thom Yorke costuma se distanciar das criações do Radiohead para mergulhar em um novo registro em carreira solo ou mesmo abraçar diferentes projetos paralelos. Entretanto, ao investir no colaborativo The Smile, o cantor e compositor britânico decidiu manter a relação com a antiga banda, pelo menos em partes, estreitando a relação com o velho parceiro, o multi-instrumentista e compositor Jonny Greenwood. O resultado desse processo, que ainda conta com a presença do baterista Tom Skinner, integrante do Sons of Kemet, um dos coletivos de jazz mais importantes da cena inglesa, está nas canções de A Light for Attracting Attention (2022, XL), primeira e bem-sucedida empreitada assumida pelo trio.

Com produção assinada pelo experiente Nigel Godrich (Paul McCartney, Arcade Fire), “sexto membro” do Radiohead, o trabalho inaugurado pela crescente The Same, com seus sintetizadores e costuras eletrônicas, segue exatamente de onde Yorke parou há três anos, durante a montagem do último álbum em carreira solo, ANIMA (2019). São inserções minuciosas, texturas e sobreposições que, pouco a pouco, ampliam os horizontes do trio. É como um campo aberto às possibilidades, estrutura reforçada com a chegada da música seguinte, The Opposite, faixa que destaca o uso dos instrumentos e a presença de Greenwood, convidando o ouvinte a se perder em um labirinto de sons e efeitos pouco usuais, sempre imprevisíveis.

Nada que se compare à potência expressa em You Will Never Work In Television Again. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa sustenta na colisão entre guitarras e batidas rápidas uma das criações mais intensas de Yorke e Greenwood desde a fase The Bends (1995). Pouco menos de três minutos em que o trio utiliza da sobreposição ruidosa dos elementos, esbarra na obra de veteranos como Can e sustenta nos versos que tratam sobre abuso e manipulação um dos pontos fortes do trabalho. É somente com a chegada de Pana-vision, com seus pianos entristecidos, que o ouvinte volta a respirar. Instantes em que somos transportados para o mesmo território criativo explorado por Yorke na trilha de Suspiria (2018).

Com a chegada de The Smoke, quinta faixa do disco, um precioso exercício de transformação. Enquanto os versos evidenciam o direcionamento político proposto pela obra (“Não mexa comigo / Enquanto eu morro nas chamas / Enquanto eu me incêndio“), o uso de metais e a linha de baixo destacada refletem o domínio técnico do trio. A própria Speech Bubbles, mesmo soando como uma possível sobra do material entregue em A Moon Shaped Pool (2016), encanta pelo refinamento dado aos arranjos. É como uma curva breve antes da potência explícita em Thin Thing, música que parece maior a cada nova audição, como uma interpretação ainda mais frenética do material entregue em You Will Never Work In Television Again.

Passado o som cósmico detalhado pelo trio em Open the Floodgates, Free In The Knowledge tinge com melancolia a experiência do ouvinte e abre passagem para a porção final do disco. São arranjos e vozes que acenam para o cultuado OK Computer (1997), porém, preservando a subjetividade dos versos que alternam entre conflitos pessoais e reflexões sobre a nossa sociedade. “É apenas um momento ruim / E nós estamos atrapalhando“, canta Yorke. Frações poéticas e instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, tratamento que vai da aceleração imposta em A Hairdryer ao caráter atmosférico da delicada Waving a White Flag, composição que aponta para as criações de Brian Eno na década de 1970.

Partindo dessa mesma estrutura contrastante, o trio finaliza o disco com dois momentos de evidente acerto e delirante combinação de ritmos. De um lado, a aceleração de We Don’t Know What Tomorrow Brings, faixa que evoca as criações reveladas em In Rainbows (2007), porém, completa pelos sintetizadores que parecem característicos do presente álbum. No outro, a já conhecida Skrting On The Surface, música que avança em uma medida própria de tempo, sem pressa, destacando a construção dos versos. Canções que transitam por diferentes estilos, temáticas e direções criativas de forma sempre consistente, proposta que faz aumentar a expectativa para o que quer que o trio britânico venha a apresentar pelos próximos anos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.