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Crítica

The Softies

: "The Bed I Made"

Ano: 2024

Selo: Father/Daughter

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Gaze e Tiger Trap

Ouça: Tiny Flame e Go Back In Time

7.8
7.8

The Softies: “The Bed I Made”

Ano: 2024

Selo: Father/Daughter

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Gaze e Tiger Trap

Ouça: Tiny Flame e Go Back In Time

/ Por: Cleber Facchi 19/09/2024

A última vez que ouvimos um novo álbum de inéditas do The Softies o mundo era bem diferente do atual. Entretanto, o tipo de som produzido por Rose Melberg e Jen Sbragia ainda permanece o mesmo. E isso está longe de parecer um problema. Na contramão do cenário atual, com trabalhos marcados pelos excessos e diferentes desdobramentos criativos, a dupla estadunidense continua a investir em um material que chama a atenção pelo reducionismo dos elementos, harmonias caprichosas e versos deliciosamente confessionais.

Estou sentindo sua falta / E querendo / Voltar no tempo”, canta a dupla logo nos minutos iniciais do disco, em Go Back In Time, música que não apenas resgata uma série de elementos bastante característicos da banda, como serve de resposta para o longo período em que as duas artistas se mantiveram afastadas. São versos sempre econômicos, porém marcados pela força dos sentimentos, como uma extensão natural de tudo aquilo que o The Softies tem explorado desde o início da carreira, vide obras como It’s Love (1995).

Uma vez ambientado a esse universo de emanações reducionistas, talvez previsíveis para quem há tempos acompanha o trabalho da banda, cada nova composição se transforma em um objeto de destaque, como se pensadas para serem lentamente absorvidas pelo ouvinte. Mais uma vez livres de elementos percussivos, Melberg e Sbragia posicionam as guitarras em segundo plano, destacando as harmonias de vozes que naturalmente se transformam em um instrumento de possibilidades infinitas nas mãos das duas artistas.

Em geral, são composições de um a dois minutos que avançam em uma medida particular de tempo, sem pressa. A principal diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, sempre embalados por questões emocionais e conflitos típicos de jovens adultos, está na mudança de perspectiva a partir da passagem do tempo e todas as transformações experienciadas pela dupla nessas últimas duas décadas de separação. Os mesmos velhos problemas, romances e conflitos pessoais, porém partindo de um ponto de vista diferente.

Exemplo disso fica bastante evidente em Tiny Flame. Enquanto os arranjos se revelam em pequenas doses, versos consumidos pelas emoções costuram passado e presente em um delicado exercício de exposição emocional. “Tudo começou com uma pequena chama / E terminou em lágrimas / Eu não me sentia assim há anos“, cresce a letra da canção. Esse mesmo direcionamento volta a se repetir em outros momentos ao longo do material, como I Said What I Said, Sigh Sigh Sigh, California Highway 99 e outras preciosidades.

Partindo dessa abordagem, Melberg e Sbragia garantem ao público uma obra que tanto preserva a própria identidade criativa, como amplia os horizontes da dupla. É como se, mesmo após o longuíssimo intervalo que separa The Bed I Made do material entregue no antecessor Holiday In Rhode Island (2000), as duas artistas seguissem de onde pararam há mais de duas décadas, revelando uma sequência de composições talvez livres de grandes transformações, mas que se conectam com o ouvinte sem grandes dificuldades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.