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Crítica

Tirzah

: "Colourgrade"

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Jessy Lanza e Erika de Casier

Ouça: Hive Mind e Sink In

8.3
8.3

Tirzah: “Colourgrade”

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: R&B, Eletrônica

Para quem gosta de: Jessy Lanza e Erika de Casier

Ouça: Hive Mind e Sink In

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2021

Batidas esqueléticas, ruídos, fragmentos de vozes e quebras conceituais. Quem há tempos acompanha o trabalho de Tirzah Mastin sabe que a cantora, compositora e produtora britânica costuma seguir uma trilha criativa bastante particular. É como se a artista, sempre acompanhada pela produtora e multi-instrumentista Mica Levi, se despisse de possíveis excessos para investir na produção de um som totalmente reducionista. São canções que partem de uma base retorcida, torta, porém, estranhamente hipnótica, produto dos sentimentos e confissões românticas ancoradas em experiências e conflitos reais.

E isso fica ainda mais evidente em Colourgrade (2021, Domino). Segundo e mais recente trabalho de estúdio da artista inglesa, o registro de dez faixas segue exatamente de onde Tirzah parou no álbum anterior, o atmosférico Devotion (2018), porém, partindo de uma abordagem deliciosamente inexata. São ambientações sujas e vozes tratadas de forma quase claustrofóbica, cercando e sufocando o ouvinte. Uma permanente sobreposição de ideias, ritmos e referências que utiliza de elementos do R&B tradicional, mas que em nenhum momento tende ao óbvio, tornando a experiência de ouvir o disco sempre inquietante.

Exemplo disso acontece na labiríntica Hive Mind. Completa pela participação do cantor Coby Sey, com quem havia colaborado no disco anterior, a canção nasce como um típico registro sobre o distanciamento de um casal, porém, ganha novo resultado à medida em que ambientações cíclicas e sintetizadores melancólicos surgem ao fundo da composição, como um complemento aos versos. “Isso torna as coisas claras? / Dados os dias que compartilhamos / Cada peça / Dia a dia / Aos poucos / Vinculando como / Costumávamos fazer“, relembra a letra que se espalha em um jogo de vozes, ruídos e quebras ocasionais.

É como se Tirzah flertasse a todo momento com a música pop, porém, fosse consumida pela degradação dos elementos e captações de Levi, artista conhecida pela produção de obras sempre provocativas, como a trilha sonora do filme Sob a Pele (2013). Exemplo disso acontece em Sleeping, faixa que cresce em meio a camadas de guitarras e inserções fragmentadas, capazes de manchar o lirismo confessional da cantora. O mesmo acontece na já conhecida Tectonic, composição que ganha forma em um ambiente marcado pelo uso de pequenas abstrações e bases acinzentadas que mudam de direção a todo instante.

Entretanto, uma vez imerso nesse ambiente que tende ao desconforto, difícil escapar do feitiço lançado por Tirzah. São canções dotadas de uma linguagem universal, capazes de dialogar com o ouvinte logo em uma primeira audição. Um minucioso jogo de versos que, mesmo soterrados em meio a escombros sintéticos, falam sobre saudade, dor e distanciamento de forma sempre sensível. “Venha um pouco mais perto de mim agora / Vou me amar, vou confiar de novo / Vou mostrar a eles que estou bem“, detalha em Sink In, música que fala sobre amor próprio e ainda sintetiza parte do lirismo agridoce que serve de sustento ao trabalho.

Instantes em que a artista inglesa preserva e perverte tudo aquilo que foi apresentado no disco anterior. A principal diferença em relação ao material entregue em Devotion, de onde vieram composições como Go Now e Glady, está no caráter totalmente imersivo de Colourgrade. Na mesma medida em que estreita a relação com o ouvinte por meio dos versos, Tirzah e Levi se concentram na produção de faixas marcadas pelo completo experimentalismo dos elementos. Um misto de conforto e provocativa quebra de conceitos, proposta que orienta de maneira incerta o desenvolvimento do trabalho até a derradeira Hips.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.