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Crítica

Total Blue

: "Total Blue"

Ano: 2024

Selo: Music From Memory

Gênero: Eletrônica, Jazz

Para quem gosta de: Purelink e Benedek

Ouça: Corsair e Heart of The World

8.0
8.0

Total Blue: “Total Blue”

Ano: 2024

Selo: Music From Memory

Gênero: Eletrônica, Jazz

Para quem gosta de: Purelink e Benedek

Ouça: Corsair e Heart of The World

/ Por: Cleber Facchi 26/09/2024

Você já teve a sensação de que está ouvindo um disco embaixo d’água? É exatamente isso que os músicos Nicky Benedek, Alex Talan e Anthony Calonico, todos radicados em Los Angeles, conseguem causar com o primeiro trabalho de estúdio como Total Blue. Autointitulado, o registro, que chega pelo selo belga Music From Memory, alcança um equilíbrio entre a produção eletrônica e o jazz, porém chama a atenção pelo uso de complexas estruturas instrumentais e rítmicas que soam como se estivessem completamente submersas.

Com The Path como música de abertura, o trio estabelece parte dos conceitos que serão incorporados ao longo do material. São delicadas camadas de sintetizadores que combinam as ambientações de Hiroshi Yoshimura e os temas aquáticos de jogos como Super Mario 64. Um lento, porém contínuo desvendar de sensações, conceito reforçado na posterior Corsair, composição que se completa pelo baixo de Sam Wilkes e a percussão que alterna entre o uso de componentes da balearic beat com a obra de Naná Vasconcelos.

Uma vez ambientados a esse cenário de formas reducionistas, Benedek, Talan e Calonico começam a jogar com as possibilidades. E isso fica bastante evidente nos quase oito minutos de Heart of The World, música que parte de uma base contida, porém cresce na percussão abrasileirada, uso sutil de metais e guitarras cíclicas que apontam para o trabalho de Manuel Göttsching. Frações sonoras que se revelam ao público em pequenas doses, como em Jaguarundi, canção que evoca o repertório de Hermeto Pascoal e Jon Hassell.

Menos sofisticada, porém tão atrativa quanto as faixas que a antecedem, Dorian Dial leva o trabalho para outras direções, como um aceno para os temas transcendentais da new age nos anos 1980. Não por acaso, com a chegada da composição seguinte, Chaparral, o registro começa a ficar cada vez mais contemplativo, destacando o uso de ambientações etéreas. Instantes em que o trio aponta para os temas cósmicos de Steve Roach sem necessariamente corromper a própria identidade criativa e o sinuoso encaixe dos instrumentos.

Exemplo disso fica ainda mais evidente em Bone Chalk, música que se divide entre ambientações etéreas e o uso de uma percussão ritualística, como uma reinterpretação daquilo que o trio havia testado em faixas como Corsair. A partir desse ponto, o trabalho continua a atrair a atenção do ouvinte, porém perde muito da sensação de impacto que marca os minutos iniciais e começa a se repetir. A própria Pearl Plains, com suas batidas totalmente desconjuntadas e arranjos esqueléticos sintetiza isso de forma bastante eficiente.

Nada que a derradeira Stone God Stomp não dê conta de solucionar. Menos referencial quando próxima de outras canções ao longo do trabalho, a faixa preserva a atmosfera submersa do registro, porém estabelece na intensidade das batidas a passagem para um novo território criativo. Longe da ambientação jazzística do restante da obra, a música avança em direção às pistas, reforçando a relação do trio com a produção eletrônica e deixando o caminho aberto para os futuros inventos assinados por Benedek, Talan e Calonico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.