Ano: 2024
Selo: Sesc
Gênero: Rock, MPB
Para quem gosta de: Jadsa e Ava Rocha
Ouça: Trago e Sou Eu Que Vou Trabalhar
Ano: 2024
Selo: Sesc
Gênero: Rock, MPB
Para quem gosta de: Jadsa e Ava Rocha
Ouça: Trago e Sou Eu Que Vou Trabalhar
Você já parou pra pensar na quantidade de vídeos aleatórios que se acumulam na galeria do seu celular? Tulipa Ruiz decidiu transformar isso em arte. Partindo de loops de trechos captados a partir de passeios pela cidade, a artista entregou esse material para Rica Amabis, que logo o converteu em programações e samples, enquanto Alexandre Orion adicionou batidas com sua MPC e o irmão Gustavo Ruiz inseriu linhas de baixo e guitarras. O resultado?Um registro de oito composições que marca a estreia do paralelo Trago.
Com lançamento pelo Selo Sesc, o trabalho diz a que veio logo na introdutória Porvir. Enquanto a base da faixa se revela aos poucos, jogos de palavras tratam sobre a efemeridade e ciclicidade da vida, como uma extensão dos temas incorporados pela cantora no ainda recente Habilidades Extraordinárias (2022). “Da nave pro ovo / Do ovo pra Terra / E na Terra começa / Tudo de novo”, reflete. São pinceladas poéticas e instrumentais que ajudam a entender o curioso território criativo explorado pelo grupo ao longo da obra.
Em geral, são canções que partem de um contexto urbano, como pequenas observações de Ruiz sobre a cidade de São Paulo, mas que aos poucos se transformam em algo maior e profundamente internalizado. “Eu olho pro céu / Antes de ser engolida / Pela cidade … Eu engulo a cidade”, canta em Espiritualizadérrima, outro importante fragmento daquilo que o quarteto busca desenvolver. São composições que encolhem e crescem a todo instante, aprisionando o ouvinte em um loop sinuoso que orienta a formação do material.
Se por um lado essa abordagem sintetiza de forma eficiente tudo aquilo que caracteriza o desenvolvimento do trabalho, por outro, esbarra em pequenas repetições temáticas e estruturais que diminuem o brilho da obra. Como indicado na sequência formada por Dolores Prestes a Levantar, Sisudo, Parrudo e Elegante e Chorume, tudo gira em torno de um mesmo universo criativo que depende da poesia semi-declamada de Tulipa. A diferença está na intensidade e uso de pequenas variações da sempre contida base instrumental.
Não por acaso, sobrevive nos momentos que mais se distancia desse resultado a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Fumante Padrão, música que se engrandece pelos pianos elétricos de João Donato (1934 – 2023) e rompe com a poesia claustrofóbica da artista. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante na posterior Sou Eu Que Vou Trabalhar, música que destaca a atmosfera urbana o lirismo político da cantora, porém, de maneira totalmente fluida e despojada.
Esse mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo na derradeira faixa-título. Outro importante ponto de destaque dentro do disco, a canção completa pelas rimas de Rodrigo Brandão segue de onde o grupo parou na composição anterior, ganha novas tonalidades e cresce para além dos limites da obra. São pouco menos de três minutos em que o grupo referencia diferentes exemplares da música brasileira, reflete sobre a situação política do país e pontua com excelência o que vem sendo montado desde a introdutória Porvir.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.