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Crítica

Urias

: "Carranca"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Ventura Profana

Ouça: Voz do Brasil, Deus e Vontade De Voar

8.2
8.2

Urias: “Carranca”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Ventura Profana

Ouça: Voz do Brasil, Deus e Vontade De Voar

/ Por: Cleber Facchi 15/10/2025

Desde a estreia, quando encaixou a psicodélica Foi Mal no repertório essencialmente pop de Fúria (2022), Urias deixou bastante claro que jogaria com regras próprias. Livre de apego a um gênero em específico, a cantora e compositora mineira continua a se desafiar criativamente em estúdio, proposta que ganha novo significado no denso material concebido pela artista de Uberlândia para Carranca (2025, Independente).

Mais uma vez acompanhada pelos produtores Rodrigo Gorky e Maffalda, Urias abandona o pop eletrônico de Her Mind (2023) para tensionar e elevar a própria criação. Marcado por referências afro-brasileiras, o registro de forte carga simbólica transita por entre temas como negritude, gênero e liberdade de maneira bastante provocativa, porém, preservando o que há de mais acessível no fino repertório da artista mineira.

Não por acaso, Urias fez de Deus, parceria com Criolo, a primeira composição do álbum a ser apresentada ao público. Enquanto os versos gritam contra a exclusão e a hipocrisia religiosa que recusa a existência de pessoas trans (“Levaram Deus / E é por isso que eu não amo nunca mais”), batidas em destaque preservam a abordagem dançante do registro anterior e, ao mesmo tempo, incorporam outras possibilidades rítmicas.

E isso é apenas uma fração da riqueza de estilos que abastecem o disco. Em Etiópia, por exemplo, é o funk minimalista que embala os versos marcados pela reconexão da artista com a ancestralidade africana. Já em Vontade de Voar, é a MPB classuda dos anos 1970 que orienta o trabalho de Urias, conceito reforçado em Águas De Um Mar Azul, canção inédita de Hyldon, e Herança, junto do músico baiano Giovani Cidreira.

Entretanto, é quando alcança um ponto de equilíbrio entre o pop dos primeiros discos e a poesia atenta do presente álbum que Urias garante ao público algumas de suas melhores composições. É o caso de Voz do Brasil. Com versos que propõem uma crítica irônica à imagem estereotipada e hedonista do nosso país, a faixa ainda cresce na desconstrução do sample de O Guarani, criação do compositor Carlos Gomes que, há décadas, tem sido empregada como música de abertura do noticiário radiofônico que dá nome à canção.

Interessante notar que, mesmo diverso, o trabalho mantém firme a consistência durante toda sua execução, indo do R&B reducionista de Se Eu Fosse Você ao rap denso de Paciência, parceria com Don L, com uma naturalidade única. O problema acaba ficando por conta dos interlúdios interpretados por Marcinha do Corintho. Além de excessivamente longos e professorais, matam a sutileza dos temas já resolvidos dentro de cada composição. Ainda assim, Carranca se impõe como a obra mais madura e liricamente ambiciosa de Urias, reafirmando a capacidade da artista em transformar diferentes inquietações em música pop.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.