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Crítica

Varanda

: "Beirada"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Pelados e Besouro Mulher

Ouça: Desce Já, Vida Pacata e Cê Mexe Comigo

7.8
7.8

Varanda: “Beirada”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Pelados e Besouro Mulher

Ouça: Desce Já, Vida Pacata e Cê Mexe Comigo

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2024

Beirada (2024, Independente), primeiro trabalho de estúdio do quarteto mineiro Varanda, cumpre todas as funções de um disco de estreia. Produto da parceria entre Mario Lorenzi (guitarra), Amélia do Carmo (voz), Augusto Vargas (baixo e voz) e Bernardo Merhy (bateria), o registro de onze canções deixa de lado a busca por um repertório consistente para garantir ao público uma obra marcada pelas possibilidades. É como um colorido inventário de ideias e referências, conceito que vai da imagem de capa a cada nova composição.

Com P.Q.P.Q. como música de abertura, o quarteto de Juíz de Fora diz a que veio logo nos primeiros minutos. Enquanto os versos destacam a poesia afiada da banda (“Na sua pose ignorante / Fotografa o seu fracasso e só”), camadas de guitarras encolhem e crescem a todo instante. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante na posterior Barcos no Mar, música que avança aos poucos e explode nos momentos finais, destacando o experimentalismo sutil que, vez ou outra, orienta as composições do grupo.

Essa mesma abordagem progressiva acaba se refletindo minutos à frente, em Cama de Vento, música que alterna entre as vozes de Vargas e do Carmo, posiciona as guitarras em primeiro plano e culmina em um fechamento catártico, evidenciando a densidade da banda. Nada que a canção seguinte, Vida Pacata, não dê conta de perverter. Das guitarras despojadas, passando pelos versos que estabelecem uma metáfora entre relacionamentos e futebol, tudo parece pensado para destacar o lado mais acessível do quarteto.

A própria Se Mexe Comigo, vinda em sequência, parece reforçar esse mesmo direcionamento. Completa pelas vozes de Manu Julian, da banda Pelados, a canção destaca o diálogo do quarteto com o pop, porém preservando as guitarras sempre carregadas de efeitos que correm ao fundo da composição. São arranjos e vozes sutis, como um preparativo para o que se reflete de forma ainda mais sensível em Bahia e Aviões, música que leva o disco para outras direções, mesmo sendo bruscamente rompida pela enérgica Tempo.

A partir desse ponto, Beirada começa a ficar cada vez mais imprevisível e consequentemente fascinante. Em Topo dos Prédios, por exemplo, são guitarras, batidas e vozes que se entrelaçam aos poucos, arrastando o ouvinte para dentro de um imenso turbilhão de sensações. Uma vez imerso nesse cenário marcado pelas possibilidades, o grupo abre passagem para o que talvez seja uma das principais faixas do disco, Desce Já. Dos versos que se completam pela participação de Dinho Almeida, da Boogarins, passando pelo tratamento dado aos arranjos, cada mínimo fragmento da composição destaca a força criativa do quarteto em estúdio.

Tudo é tão intenso que Relâmpagos, vinda logo em sequência, praticamente acaba engolida pela faixa que a antecede. A própria similaridade com outras composições ao longo do disco, que começam pequenas e explodem de forma previsível nos momentos finais, contribui ainda mais para esse resultado. Felizmente, antes que essas pequenas repetições prejudiquem o desenvolvimento da obra, Não Tem Hora encaminha o álbum para o fechamento, pontuando de maneira contida, porém bastante satisfatória o trabalho da banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.