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Crítica

Vauruvã

: "Por Nós da Ventania"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Black Metal

Para quem gosta de: Papangu e Kaatayra

Ouça: Maresia e Um Sopro Aluvião

8.0
8.0

Vauruvã: “Por Nós da Ventania”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Black Metal

Para quem gosta de: Papangu e Kaatayra

Ouça: Maresia e Um Sopro Aluvião

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2022

O som das ondas nos minutos iniciais de Maresia, música de abertura em Por Nós da Ventania (2022, Independente), funciona como um precioso indicativo da fluidez que orienta as criações de Caio Lemos e Bruno Augusto Ribeiro no mais novo álbum do Vauruvã. Livre de possíveis amarras, o sucessor do ainda recente Manso Queimor Dacordado(2021), entregue há poucos meses, convida o ouvinte a se perder em um território marcado pelas possibilidades. São canções que mudam de direção a todo instante, porém, sustentam na construção dos versos um componente de amarra e forte aproximação entre as faixas.

Assim como o registro que o antecede, Por Nós da Ventania passeia em meio a paisagens descritivas e temas que tratam sobre o alvorecer da civilização humana. A diferença está na forma como o cenário ao redor parece engolir o indivíduo, revelando a construção de um repertório ainda mais complexo, denso e detalhista. A própria relação com a passagem do tempo e o uso de conceitos existenciais ganha ainda mais destaque ao longo da obra. Canções que começam pequenas, ganham forma e crescem em uma delirante combinação de elementos, como um avanço em relação ao material entregue pela dupla há poucos meses.

E isso se reflete principalmente no acabamento instrumental dado ao disco. Sempre em busca de novas possibilidades, Lemos se aventura na construção de uma obra essencialmente diversa. São canções que preservam a densidade e potência de um típico exemplar do gênero, porém, pontuadas por momentos de maior transformação e evidente ruptura estética. Escolhida para a abertura do trabalho, a já citada Maresia funciona como uma representação desse resultado. Instantes em que o músico parte do uso de temas atmosféricos, destaca a ferocidade das guitarras e, por fim, mergulha em uma abordagem ritualística.

É como se Lemos transportasse para dentro do disco uma série de elementos originalmente testados nos paralelos Kaatayra e Bríi. Composições que mais parecem blocos concentrados de informações, ritmos e diferentes propostas criativas. Com mais de oito minutos de duração, Um Sopro Aluvião talvez seja a faixa que melhor representa esse direcionamento adotado pelo músico. Da pulsação da bateria que tende ao hardcore, passando pelas guitarras melódicas que assumem estruturas matemáticas, cada elemento da canção parece pensado de forma a tensionar a experiência do ouvinte. E ela não é a única a fazer isso.

Mesmo que parte expressiva das canções pareçam montadas a partir de fragmentos extraídos de outros registros apresentados por Lemos, sobrevive nesse cruzamento de informações um estímulo natural para o fortalecimento do trabalho. É como se cada música fosse tratada pelos dois artistas como uma obra única, detalhando incontáveis camadas instrumentais, quebras conceituais e diferentes direções criativas em um curto intervalo de tempo. Composições como À Verdade, com suas guitarras labirínticas, e Cantos Entre Sangas, que encolhe e cresce a todo instante, rompendo com todo e qualquer traço de previsibilidade.

Desde o início conversamos sobre esse álbum ser o mais liberto possível de amarras de uma composição planejada, para que ele seja natural e espontâneo, de acordo com o universo criado pelas palavras de Bruno“, disse Lemos no texto de apresentação do material.E isso fica bastante evidente durante toda a execução da obra. São canções que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso. Um condensado lírico, rítmico e instrumental que preserva parte dos elementos apresentados pela dupla em Manso Queimor Dacordado, porém, de forma ampliada e sempre provocativa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.