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Crítica

Victoria Monét

: "Jaguar II"

Ano: 2023

Selo: RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e Kehlani

Ouça: Party Girls, Oh My Mama e Good Bye

8.0
8.0

Victoria Monét: “Jaguar II”

Ano: 2023

Selo: RCA

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e Kehlani

Ouça: Party Girls, Oh My Mama e Good Bye

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2023

Mesmo em um cenário sempre movimentado como o do R&B norte-americano, o som de Victoria Monét se destaca sem grandes dificuldades. Conhecida pela série de composições produzidas para grandes figurões da indústria da música, como Ariana Grande e Chloe x Halle, a artista regressa agora com o que talvez seja sua maior criação, Jaguar II (2023, RCA). Sequência ao material entregue no primeiro capítulo da série, iniciada há três anos, o registro não apenas reforça o trabalho de Monét como uma das personagens mais relevantes da cena estadunidense, como oferece ao gênero um amplo catálogo de novas possibilidades.

Com produção caprichadíssima do nova-iorquino D’Mile, com quem Monét havia colaborado no disco anterior, Jaguar II parece pensado para seduzir não apenas a nova geração que foi embalada por nomes como Tinashe, Kehlani e SZA, mas principalmente aficionados pela música negra produzida entre os anos 1970, 1980 e 1990. Do momento em que tem início, na já conhecida Smoke, parceria com Lucky Daye, fica bastante evidente o refinamento dado aos arranjos, batidas e bases, como um aceno da cantora para a obra de veteranos como D’Angelo e Erykah Badu, mas que em nenhum momento corrompe a própria essência.

São canções que parecem trabalhadas em uma medida própria de tempo, sem pressa, destacando o uso das vozes e instrumentação sempre minuciosa que embala a experiência do ouvinte. Exemplo disso pode ser percebido em On My Mama. Enquanto os versos destacam o lirismo provocativo da cantora (“Eu só quero viver em uma fantasia / Acho que merecemos, certo?), uma suculenta linha de baixo abre passagem para a inserção de guitarras atmosfericas e sopros que parecem saídos da trilha sonora de algum clássico da blaxploitation. Uma deliciosa combinação de elementos que seduz a cada novo movimento da artista.

Embora avance aos poucos, Jaguar II está longe de parecer uma obra arrastada. Parte desse resultado vem do esforço da artista em transitar por entre estilos em uma abordagem que tanto preserva como perverte a estrutura de um típico disco de R&B. Perfeita representação desse esforço da cantora em ampliar o próprio campo de atuação fica bastante evidente em Party Girls. Completa pela participação do jamaicano Buju Banton, a faixa parte de uma abordagem tradicional, porém, logo desemboca em um reggae deliciosíssimo, direcionamento que volta a se repetir de forma transformada em Stop (Askin’ Me 4Shyt), minutos à frente.

O mais interessante talvez seja perceber como isso não se limita a um momento específico do trabalho. Tão logo Jaguar II tem início, Monét trata de cada composição como um objeto precioso e musicalmente diverso, surpreendendo o público durante toda a execução do material. Em Hollywood, por exemplo, é o inusitado diálogo com Philip Bailey, um dos vocalistas do grupo Earth, Wind & Fire, que chama a atenção. Já em Alright, é a produção eletrônica que aponta a direção seguida pela artista. Nada que prepare o ouvinte para a derradeira Good Bye, canção que encanta pela riqueza dos metais e harmonias de vozes.

Mais do que uma ferramenta eficiente para o desenvolvimento do material, essa pluralidade de estilos ajuda a artista a disfarçar o que talvez seja um dos principais defeitos da obra: a repetição temática. Da mesma forma que outros registros do gênero, tudo gira em torno de noites de sexo e momentos de maior vulnerabilidade emocional, conceito rompido momentaneamente em canções como Hollywood, em que se aprofunda nos próprios sonhos e conquistas pessoais. Composições talvez previsíveis do ponto de vista poético, porém, cuidadosamente trabalhadas e embaladas de forma a capturar a atenção do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.