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Crítica

Wednesday

: "Bleeds"

Ano: 2025

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock

Para quem gosta de: MJ Lenderman e Waxahatchee

Ouça: Wound Up Here (By Holdin On) e Elderberry Wine

8.8
8.8

Wednesday: “Bleeds”

Ano: 2025

Selo: Dead Oceans

Gênero: Rock

Para quem gosta de: MJ Lenderman e Waxahatchee

Ouça: Wound Up Here (By Holdin On) e Elderberry Wine

/ Por: Cleber Facchi 29/09/2025

Concebido durante um período de forte instabilidade emocional, durante o processo de separação vivido por Karly Hartzman e MJ Lenderman, Bleeds (2025, Dead Oceans) é um verdadeiro triunfo artístico. Ainda que a relação profissional entre os principais membros do Wednesday tenha prevalecido, a visceralidade explícita nos versos de Hartzman e as guitarras furiosas de Lenderman confessam: nem tudo foi resolvido.

Você reapareceu antes que eu percebesse que havia ido embora / Acabei ficando aqui por me segurar”, canta Hartzman em Wound Up Here (By Holdin On). Marcada por cenas fragmentadas de violência, dor e memórias amargas do cotidiano, a faixa, invadida pelo uso ruidoso das guitarras, sintetiza a intensa carga emocional que consome o registro. É como um doloroso e necessário exercício de libertação sentimental.

A principal diferença em relação a outros registros do gênero, sempre expositivos, está na forma como os dois artistas buscam lidar com a situação. Enquanto Lenderman parou de excursionar com a banda nos últimos meses, atuando apenas em estúdio e voltando seus esforços para os trabalhos em carreira solo, Hartzman detalha tudo de maneira sensível e madura, porém preservando a intensidade do Wednesday.

São faixas como Bitter Everyday e Candy Breath que escancaram a potência da banda completa pelos músicos Alan Miller, Xandy Chelmis e Ethan Baechtold. Mesmo quando desacelera momentaneamente, o grupo mantém a robustez dos versos. Exemplo disso fica bastante evidente em Elderberry Wine, canção que trata sobre a necessidade de seguir em frente e o sabor amargo do amor perdido que sempre retorna.

É como se o grupo seguisse de onde parou há dois anos, durante o lançamento do também intenso Rat Saw God (2023), porém, partindo de um abordagem ainda mais densa e melancólica. Sétima faixa do disco, The Way Love Goes sintetiza isso de maneira bastante eficiente. Enquanto arranjos minimalistas ganham forma aos poucos, a voz solitária de Hartzman reflete sobre as dificuldades, angústias e falhas inevitáveis do amor.

Mesmo faixas já conhecidas, como Pick Up That Knife, ganham novo significado quando observadas como parte do doloroso universo temático disco. Dessa forma, o que poderia soar apenas como repetição estética em relação a Rat Saw God se converte em gesto de plena reinvenção, já que as mesmas bases instrumentais agora sustentam outra densidade emocional. Um registro que reaproveita a linguagem já familiar do grupo norte-americano e a subverte, iluminando novas camadas de fragilidade emocional, ressentimento e afeto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.