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Crítica

Whitelands

: "Night​-​Bound Eyes Are Blind To The Day"

Ano: 2024

Selo: Sonic Cathedral

Gênero: Shoegaze, Dream Pop

Para quem gosta de: Slowdive e DIIV

Ouça: Tell Me About It e The Prophet & I

7.8
7.8

Whitelands: “Night​-​Bound Eyes Are Blind To The Day”

Ano: 2024

Selo: Sonic Cathedral

Gênero: Shoegaze, Dream Pop

Para quem gosta de: Slowdive e DIIV

Ouça: Tell Me About It e The Prophet & I

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2024

Em fevereiro deste ano, quando o Slowdive anunciou uma série de shows pelo Reino Unido para promover o álbum Everything Is Alive (2023), foram os membros do Whitelands a banda escolhida para excursionar com os veteranos de Reading. E não poderia ser diferente. Além de contar com o suporte em estúdio do baterista Simon Scott nos últimos meses, o quarteto formado pelos instrumentistas Etienne Quartey-Papafio (guitarra, voz), Jagun Meseorisa (bateria), Michael Adelaja (guitarra) e Vanessa Govinden (baixo), talvez seja um dos que melhor dialoga com a proposta o grupo encabeçado por Rachel Goswell e Neil Halstead.

Exemplo disso fica bastante evidente em cada uma das oito composições que integram o segundo e mais recente álbum de estúdio do grupo inglês, Night​-​Bound Eyes Are Blind To The Day (2024, Sonic Cathedral). Verdadeira homenagem ao tipo de som produzido entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990 no Reino Unido, o registro não apenas soa como um diálogo com a obra de artistas como Slowdive, Ride e tantos outros nomes do mesmo período, como atualiza uma série de elementos bastante característicos.

Enquanto as guitarras, sempre carregadas de efeitos, se levantam como blocos intransponíveis de ruídos, versos contemplativos destacam a sensibilidade poética que orienta a formação do trabalho. São canções que tratam sobre relacionamentos complicados e momentos de maior vulnerabilidade emocional, porém, pontudas por questões raciais e políticas que dialogam diretamente com a origem dos quatro integrantes do grupo londrino, todos descendentes ou imigrantes vindos de diferentes pontos do continente africano.

Eu avistei o preto / Uma cativação nova e pura / Separar espaços em branco / A cor da paixão / Sob o sol poente“, canta Quartey-Papafio na introdutória Setting Sun, música que se projeta de forma tão direta como interpretativa. São canções marcadas pelos aspecto labiríntico dos arranjos e vozes, como se pensadas para serem desvendadas pelo ouvinte. Um exercício imersivo que segue de onde o Whitelands parou no homônimo registro de 2018, porém, utilizando de um direcionamento ainda mais complexo e tocante.

Mesmo pensado para ser absorvido aos poucos, sem pressa, Night​-​Bound Eyes Are Blind To The Day em nenhum momento interfere na produção de faixas dotadas de uma abordagem mais imediatista. É o caso de The Prophet & I, música que chama a atenção pela urgência das guitarras e batidas sempre em primeiro plano. Essa mesma fluidez, porém, partindo de uma abordagem quase transcendental, pode ser percebida em Tell Me About It, criação que partilha da sonoridade enevoada de nomes como My Bloody Valentine.

Próximo e ao mesmo tempo distante de outros exemplares do shoegaze/dream pop, Night​-​Bound Eyes Are Blind To The Day segue a cartilha de um típico trabalho do gênero, com suas guitarras distorcidas e vozes submersas, porém, atualiza pontualmente componentes rítmicos e poéticos que levam o material para outras direções. É como um salto criativo em relação aos lançamentos anteriores da banda e um delicado exercício de reapresentação, como o princípio de uma nova e interessante fase na carreira do Whitelands.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.