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Crítica

Xenia Rubinos

: "Una Rosa"

Ano: 2021

Selo: ANTI-

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Lido Pimienta e L'Rain

Ouça: Working All the Time e Don't Put Me in Red

8.0
8.0

Xenia Rubinos: “Una Rosa”

Ano: 2021

Selo: ANTI-

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Lido Pimienta e L'Rain

Ouça: Working All the Time e Don't Put Me in Red

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2021

Poucas vezes antes Xenia Rubinos pareceu tão liberta criativamente quanto nas composições de Una Rosa (2021, ANTI-). Sequência ao material entregue em Black Terry Cat (2016), de onde vieram faixas como Lonely Lover e Don’t Wanna Be, o trabalho mostra uma artista completamente transformada. Inspirada por memórias da infância ao lado da avó e outros objetos bastante pessoais, como uma lâmpada de fibra ótica que tocava uma versão de Una Rosa, de Jose Enrique Pedreira, a artista de ascendência porto-riquenha decidiu incorporar parte desses elementos em um registro que muda de direção a todo instante.

Muito desse resultado vem justamente do esforço da artista em perverter a própria obra. Foram mais de dois anos de experimentações em que Rubinos, sempre acompanhada pelo baterista e co-produtor Marco Buccelli, decidiu recortar e remontar os vocais de forma propositadamente irregular, torta. São bases atmosféricas e estruturas rítmicas que se conectam diretamente aos versos lançados pela cantora. Canções que vão de um canto a outro da música pop, porém, livres de qualquer traço de comodidade, proposta que potencializa tudo aquilo que a musicista tem produzido desde a estreia com Magic Trix (2013).

Exemplo disso acontece na turbulenta e já conhecida Working All The Time. Exatos dois minutos em que a cantora parece brincar com a fragmentação dos elementos, uso descontrolado dos samples, vozes sempre carregadas de efeitos e quebras que tornam a experiência de ouvir o trabalho completamente imprevisível. É como se Rubinos partisse exatamente de onde parou no lançamento anterior, porém, incorporando uma série de outos elementos e referências criativas, muitas delas extraídas de colaborações com diferentes artistas, caso de They Played It Twice, encontro com o Battles, e I Fell In Love, parceria com Helado Negro.

E isso fica ainda mais evidente na sequência composta por Who Shot Ya?, Cógelo Suave e Darkest Hour. São abstrações sintéticas, vozes totalmente reconfiguradas e fragmentos que vão da música de Bernard Herrmann a trechos de um programa de rádio extraído de uma antiga fita cassete gravada pelo pai de Rubinos. Uma permanente sobreposição de ideias e componentes dissonantes, mas que em nenhum momento rompem com o forte caráter sentimental da obra. Perfeita representação desse resultado acontece em Did My Best, delicada criação em que reflete sobre o peso da morte e o sentimento de luto.

Outro elemento bastante característico em relação ao trabalho diz respeito ao uso de elementos da cultura latina em parte expressiva das canções. Diferente do material entregue no álbum anterior, em que se limitava à língua inglesa, Rubinos estabelece no idioma espanhol um importante componente de transformação e ruptura criativa. O resultado desse processo está na entrega de algumas das composições mais sensíveis do registro, como Ay Hombre, Sacude e toda uma sequência de outras faixas que expressam a vulnerabilidade da artista, conceito que se reflete em diversos outros momentos ao longo da obra.

Partindo dessa criativa combinação de elementos, Rubinos, mais do que ampliar o material entregue no trabalho anterior, estabelece nas canções de Una Rosa um precioso exercício de reapresentação. Do momento em que tem início, na busca conceitual expressa na introdutória Ice Princess – “Lá está ela! Lá está ela! Não, espere! Lá está ela! Lá!” –, passando pela forte sensibilidade expressa em músicas como Don’t Put Me In Red e na já citada Did My Best, evidente é esforço da artista em resgatar elementos da identidade latina, colidir informações, ritmos e referências de forma a testar os próprios limites dentro de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.