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Crítica

Yaeji

: "With A Hammer"

Ano: 2023

Selo: XL

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jessy Lanza, Tirzah e Smerz

Ouça: For Granted, Done (Let’s Get It) e Happy

8.2
8.2

Yaeji: “With A Hammer”

Ano: 2023

Selo: XL

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jessy Lanza, Tirzah e Smerz

Ouça: For Granted, Done (Let’s Get It) e Happy

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2023

Yaeji sempre teve um jeito todo especial de fazer música. Enquanto as vozes reducionistas sussurram versos ora cantados em inglês, ora em coreano, celebrando as origens da artista que nasceu na cidade de Nova Iorque, mas passou boa parte da infância da Coreia do Sul, batidas eletrônicas e ambientações sintéticas referenciam grandes exemplares do gênero na mesma medida em que preservam a identidade criativa da produtora. Uma estranha combinação marcada pelo frescor dos elementos, porém, pontuada por momentos de maior nostalgia, estímulo para o repertório apresentado em With A Hammer (2023, XL).

Embora revelado ao público como o primeiro álbum de estúdio da produtora que hoje reside na região do Brooklyn, With A Hammar nada mais é do que o produto final de uma longa jornada que resultou em uma variedade de outras obras e composições avulsas. Desde que foi oficialmente apresentada, com os dois primeiros EPs de inéditas,ambos lançados em 2017, Yaeji tem investido em uma série de criações que vão do R&B ao techno em uma abordagem sempre característica, direcionamento reforçado durante a entrega da mixtape What We Drew 우리가 그려왔 (2020), mas que alcança melhor resultado no presente trabalho.

Escolhida para anunciar a chegada do registro, For Granted talvez seja a representação máxima de tudo aquilo que Yaeji busca desenvolver ao longo da obra. São pouco menos de três minutos em que a artista parte de uma base econômica, valorizando de forma sensível o uso das vozes, para se aventurar em um território marcado pelo atravessamento de ritmos e batidas cada vez mais destacadas. Instantes em que a produtora acena para as criações de veteranos como Aphex Twin e Everything But The Girl, porém, de forma sempre atualizada, preservando a leveza dos elementos e curiosa interpretação sobre a música pop.

Mais do que isso, With A Hammer funciona como um espaço aberto à experimentação e esforço de Yaeji em testar os limites da própria obra. Em Fever, por exemplo, enquanto a base cíclica se projeta de forma claustrofóbica, tensionando a experiência do ouvinte, vozes divididas entre o canto e a rima reforçam a relação da artista com o rap, como uma extensão natural do repertório entregue em What We Drew 우리가 그려왔. Minutos à frente, em I’ll Remember For Me, I’ll Remember For You, uma completa perversão desse resultado, com a produtora flutuando em meio a sobreposições que vão da música ambiente ao jazz.

Esse esforço em provar de novas possibilidades dentro de estúdio fica ainda mais evidente no encontro com diferentes colaboradores ao longo do trabalho. É o caso da produtora inglesa Loraine James, com quem divide a labiríntica 1 Thing To Smash, canção que destaca o lado contemplativo da obra. Mesmo quando se entrega ao pop, como em Happy, parceria com o norte-americano Nourished By Time, Yaeji nunca segue um percurso tradicional. São sobreposições de ideias e mudanças de percurso que tornam a experiência de ouvir o registro sempre imprevisível, vide a riqueza de detalhes em Done (Let’s Get It).

O mais interessante talvez seja perceber a forma como With A Hammer não apenas cumpre a função de apresentar oficialmente o trabalho de Yaeji, como evidencia a versatilidade da produtora e ainda deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos. Mesmo que algumas composições sejam encaradas como esboços, caso das esqueléticas Be Alone In This e Away X5, prevalece o refinamento das vozes e batidas que vão de um canto a outro de forma a ampliar o campo de atuação da artista. Um exercício criativo marcado pela graciosidade, mas que a todo momento busca estimular e brincar com a interpretação do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.