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Crítica

yes/and

: "yes/and"

Ano: 2021

Selo: Driftless Recordings

Gênero: Experimental, Música Ambient

Para quem gosta de: Grouper, Fennesz e Mirrorring

Ouça: Ugly Orange e Centered Shell

8.0
8.0

yes/and: “yes/and”

Ano: 2021

Selo: Driftless Recordings

Gênero: Experimental, Música Ambient

Para quem gosta de: Grouper, Fennesz e Mirrorring

Ouça: Ugly Orange e Centered Shell

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2022

De um lado, o produtor Joel Ford, músico conhecido pelas criações como colaborador de artistas como Oneohtrix Point Never, Jacques Greene, Com Truise e Ejecta. No outro, Meg Duffy, artista responsável pelo Hand Habits e trabalhos em estúdio com nomes como The War on Drugs, Weyes Blood, Kevin Morby e William Tyler. Embora vindos de contextos completamente distintos, os dois instrumentistas se encontram nas canções do yes/and (2021, Driftless Recordings), primeiro registro do projeto de mesmo nome que estabelece no uso contrastante dos elementos um estímulo para a montagem de cada composição.

E isso fica bastante evidente na introdutória Craggy. Enquanto o violão de Duffy se revela ao público em pequenas doses, ambientações ecoadas ganham forma ao fundo da composição. É como um preparativo para o material que chega minutos à frente, em Ugly Orange. Síntese conceitual de tudo aquilo que os dois artista buscam desenvolver ao longo do trabalho, a canção marcada pelas texturas e criativa combinação de elementos vai de um canto a outro sem necessariamente perder a própria consistência. São fragmentos de vozes, melodias acústicas, ruídos e sobreposições etéreas que encolhem e crescem a todo instante.

Esse mesmo resultado, porém, partindo de uma abordagem ainda mais irregular acaba se refletindo na canção seguinte, More Than Love. Guiada em essência pelas guitarras e abstrações de Duffy, a faixa posiciona Ford em segundo plano, criando um espaço para que cada colaborador brilhe individualmente. Não por acaso, Learning About Who You Are, vinda logo em sequência, potencializa as ambientações do produtor. São pequenos contrastes que acabam se refletindo durante toda a execução da obra, estrutura que naturalmente distancia a dupla de um som arrastado, por vezes típico de registros do gênero.

Entretanto, é justamente quando Duffy e Ford alcançam um ponto de equilíbrio que o trabalho realmente encanta e cresce. E isso fica bastante evidente em Centered Shell e Melt Away. Entrecortadas pela repetitiva Tumble, uma das composições menos interessantes do registro, as duas faixas evidenciam a capacidade dos instrumentistas em lidar com os instantes. São delicadas paisagens instrumentais que se completam pelo uso de vozes submersas, efeitos e sintetizadores sempre complementares. Instantes em que o ouvinte é convidado a mergulhar em um território marcado pelas possibilidades, mesmo que de maneira sutil.

Perfeita representação desse resultado acontece na curtinha Making A Monument, oitava faixa do disco. Pouco mais de um minutos em que ambientações enevoadas e ruídos se entrelaçam de forma sempre sensível. Um lento desvendar de ideias que ainda serve de passagem para a música seguinte, Emotional Scroll. Trata-se de uma versão condensada de tudo aquilo que a dupla apresenta na extensa Learning About Who You Are. São maquinações sintéticas que mais uma vez reforçam o caráter provocativo do trabalho. Retalhos instrumentais e captações abafadas que parecem tensionar a experiência do ouvinte.

Não por acaso, passado esse momento de breve turbulência, Duffy e Ford trazem de volta a leveza que orienta a porção inicial do registro. Do dedilhado bucólico ao uso controlado dos efeitos, difícil não perceber em In My Heaven All Faucets Are Fountains o fechamento de um ciclo. Instantes em que os dois instrumentistas garantem ao trabalho a pontuação ideal, como convidam o ouvinte a revistar o disco e ainda deixam o caminho aberto para os futuros lançamentos da dupla. Um precioso exercício criativo que vai do experimentalismo sutil ao acolhimento, proposta que se reflete durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.