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Crítica

Yeule

: "Evangelic Girl Is A Gun"

Ano: 2025

Selo: Ninja Tune

Gênero: Pop, Trip-Hop

Para quem gosta de: Caroline Polachek e FKA Twigs

Ouça: Evangelic Girl is a Gun, Eko e Dudu

7.3
7.3

Yeule: “Evangelic Girl Is A Gun”

Ano: 2025

Selo: Ninja Tune

Gênero: Pop, Trip-Hop

Para quem gosta de: Caroline Polachek e FKA Twigs

Ouça: Evangelic Girl is a Gun, Eko e Dudu

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2025

A construção das batidas e guitarras que surgem como scratches em Tequila Coma, música de abertura em Evangelic Girl Is A Gun (2025, Ninja Tune), diz muito sobre aquilo que Yeule apresenta no quarto álbum de estúdio da carreira. Ainda inspirada pela década de 1990, a artista deixa de lado a intensa relação com o dream pop/shoegaze, marca do antecessor Softscars (2023), para agora mergulhar de cabeça no trip-hop.

São ecos de veteranos como Massive Attack, Portishead e Moby, mas que em nenhum momento ocultam a identidade criativa da artista que surgiu com Serotonin II (2019) e foi revelada a uma parcela ainda maior de ouvintes com Glitch Princess (2022). A própria escolha de Eko como primeira música do trabalho a ser revelada ao público, em outubro do último ano, torna essa potência criativa de Yeule ainda mais evidente.

Em um intervalo de quase quatro minutos, a artista singapurense parte de um olhar atento para o passado, porém, mantendo firme a relação com o que há de mais característico no pop atual, como as vozes sempre carregadas de efeitos e uso fragmentado das bases. Mesmo quando se entrega ao uso de bases acústicas, como em VV, Yeule preserva o acabamento eletrônico que evoca nomes como Grimes e Caroline Polachek.

Por falar em Polachek, difícil não perceber ecos de Desire, I Want To Turn Into You (2023) em The Girl Who Sold Her Face, Dudu e demais faixas que destacam o lado melódico do álbum. É como se Yeule partisse do mesmo território criativo explorado pela musicista nova-iorquina, porém estabelecesse no uso ruidoso dos elementos um componente identitário. De fato, é quando mais se aproxima do trabalho anterior, com suas guitarras sujas e batidas densas, que a artista garante ao público algumas das melhores músicas do disco.

É o caso da própria faixa-título do registro. Enquanto os versos da canção discutem sensualidade, violência simbólica e glamour distorcido, arranjos inexatos se espalham em meio a camadas de ruídos e batidas que conduzem o ouvinte em direção às pistas. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais ruidosa e atmosférica em Skullcrusher, música que parece extraída diretamente de um disco do Deftones.

São justamente essas similaridades excessivas com o trabalho de outros artistas que acabam diminuindo a sensação de impacto em torno de Evangelic Girl Is A Gun. Ainda que preserve traços da própria identidade criativa, falta ao disco a mesma inventividade estética que marcou os lançamentos anteriores de Yeule. É como se o material fosse mais uma colagem de referências do que um registro verdadeiramente autoral. Um exercício de estilo bastante competente na maior parte do tempo, mas nem sempre surpreendente.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.