Disco: “Fight Bite”, Fight Bite

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2012

Fight Bite
Dream Pop/Ambient/Experimental
http://soundcloud.com/fight-bite

Por: Cleber Facchi

Não há expressão que melhor defina o trabalho da dupla Leanne Macomber e Geoffrey Louis quanto “aconchegante”. Como se fossem capazes de criar um universo próprio a partir de um agregado de nuvens ou camadas intermináveis de algodão que se sobrepõem sutilmente, o casal vindo de Denton, Texas parte em busca de uma musicalidade doce, angelical e deveras intimista. Uma percepção que já se fazia visível quando as primeiras composições protegidas sob o nome do projeto Fight Bite foram lançadas em meados de 2009 – junto do disco Emerald Eyes – e posteriormente aprimoradas quando o single Celeste foi apresentado logo no ano seguinte. Entretanto, mesmo doce e sempre delicado, o universo montado pelo casal insiste e precisa se expandir.

Esse adorável crescimento se faz visível no interior do segundo e delicadamente planejado disco de estúdio da dupla. Uma homônima obra que foi construída em pequenos blocos (ou doses) no decorrer dos últimos três anos. A explicação para o atraso está impressa no fato de que ambos os integrantes mantém firme suas aproximações com uma série de projetos paralelos, sejam eles os trabalhos colaborativos de Louis ou a presença de Macomber na turnê de divulgação do último disco do Neon Indian – Era Extraña. Todavia, os atrasos e o longo tempo distante dos estúdios acabou servindo de forma benéfica para o casal, que encontra nesse distanciamento entre ambos a força para movimentar a recente obra.

Em busca de uma sonoridade particular ou ainda em dúvida de que rumo assumir musicalmente, com a chegada do primeiro disco em meados de 2009, tanto Macomber quanto Loius pareciam desnorteados, se apegando ao máximo de informações e referências possíveis sem saber de fato que sonoridade assumir. Mesmo que alguns traços e características já fossem percebidas, com o novo álbum é que finalmente a dupla parece ter encontrado uma sonoridade concisa, homogênea e que define de maneira quase conceitual toda a estrutura do álbum. Estudiosos aprendizes do que fora mestrado ao longo dos quatro discos do Beach House, além de tudo que transita pelo Dream Pop desde os princípios do gênero, o duo converte o novo trabalho em um mar de experiências e influências que aos poucos tomam formas e ecoam de maneira bem particular.

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Como uma massa sonora única que se estende do princípio ao fecho da obra, com o novo álbum os norte-americanos estabelecem um registro que se alimenta e vive por conta própria, como se cada canção desse sustento e reforço para a faixa seguinte. Razoavelmente magro para um trabalho do gênero, o disco mantém nas dez composições (e quase 40 minutos de duração) uma forte unidade instrumental entre as músicas. Faixas que próximas de chegar ao fim lançam doces ondas de sintetizadores abafados para imediatamente se conectar à canção seguinte. É como se tudo fosse parte de uma extensa e densa música dividida em dez pequenos atos, abrindo de maneira levemente ensolarada com a primordial Catiline, até mergulhar em um oceano de dor e melancolia que se apodera das demais canções posicionadas próximas ao fechamento do trabalho.

Sempre rara, a bateria surge vez ou outra como um doce detalhamento ao trabalho, nunca como um elemento de influência dentro do disco, que até a última canção mantém no toque enevoado dos sintetizadores a grande força e beleza da obra. Diferente do trabalho anterior, quando as batidas pareciam reforçar as composições lançadas pela dupla, com o presente registro a tonalidade essencialmente ambiental é a que prevalece, com a dupla por vezes se apoiando em fórmulas testadas pelos islandeses do Sigur Rós ou outros idealizadores de um som mais onírico. Talvez a única herança disso esteja visível no interior da dançante e climática Charlotte Pluie, música que fecha o álbum com uma forte estrutura eletrônica, lembrando por vezes um Chromatics mais etéreo ou quem sabe uma Claire Boucher (Grimes) menos pop.

Embora todos os títulos das canções estejam relacionados ao nome de alguma pessoa, o álbum passa longe de manifestar uma poesia de crônica ou especialmente focada em qualquer tipo de história particular. De fato, os títulos ressaltam um toque meramente ilustrativo, já que nos versos Macomber parece se envolver com questões universais, tratando sobre amor, dor e separação – isso quando não molda a própria voz de forma a apenas contribuir com a instrumentação que banha o trabalho. Rico em detalhes e referências, o disco usa desse agregado de informações de forma a destilar uma sonoridade própria, como se a dupla encontrasse na variedade de sons e inspirações que os cercam, uma brecha rara e um caminho que parece ainda não ter sido explorado por ninguém.

Fight Bite (2012, Independente)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Beach House, Julianna Barwick e Purity Rings
Ouça: Michael, Belle e Charlotte Pluie

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.