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Críticas

Joy Orbison

: "Still Slipping Vol. 1"

Ano: 2021

Selo: XL Recordings

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Mount Kimbie e MoMa Ready

Ouça: Better e Swag W/ Kav

7.8
7.8

Joy Orbison: “Still Slipping Vol. 1”

Ano: 2021

Selo: XL Recordings

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: Mount Kimbie e MoMa Ready

Ouça: Better e Swag W/ Kav

/ Por: Cleber Facchi 14/01/2022

Parte da efervescente cena que revelou nomes como Mount Kimbie, James Blake e outros representantes do pós-dubstep no fim dos anos 2000, Peter O’Grady, o Joy Orbison, passou grande parte da última década imerso na produção de um repertório que, mesmo marcado pela inserção de temas dançantes, sempre utilizou de uma abordagem particular. E isso fica bastante evidente em toda a série de composições reveladas pelo artista. Da estreia com Hyph Mngo (2009), passando pela formação de registros como 81b EP (2018) e Bromley / Still Moving (2019), sobram momentos de incontestável acerto na obra do produtor.

Entretanto, como O’Grady, conhecido pela entrega de músicas avulsas e registros sempre econômicos, lidaria com a produção de uma obra maior? A resposta para essa pergunta está nas canções de Still Slipping Vol. 1 (2021, XL Recordings). Primeira mixtape do artista, o trabalho ganha forma em meio a fragmentos de vozes, batidas, ruídos sintéticos e encontros com diferentes colaboradores de forma misteriosa e incerta. É como um campo aberto às possibilidades. Instantes em que o produtor preserva traços da própria identidade, porém, se permite provar de novas direções criativas, ritmos e tendências.

E esse esforço em se reinventar criativamente fica bastante evidente logo na porção inicial do registro. Cercado de colaboradores, O’Grady rompe com a ambientação hermética dos antigos trabalhos para mergulhar em um repertório minimamente acessível, flertando com a música pop. Síntese desse minucioso processo de transformação acontece em Better. Completa pela participação da conterrânea Léa Sen, a faixa reflete o que há de mais acessível na obra de Joy Orbison. Do uso dos sintetizadores ao encaixe das batidas e vozes sempre hipnóticas, poucas vezes antes o som produzido pelo artista pareceu tão polido.

Mesmo quando resgata a essência dos antigos trabalhos, como em Swag W/ Kav, O’Grady utiliza de uma série de elementos que tornam a experiência do ouvinte bastante aprazível. São vozes cíclicas e marcações sonoras que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o término do registro, conceito que muito se assemelha ao material produzido por Burial. Perfeita representação desse resultado acontece na derradeira Born Slipping, composição que cresce em meio a batidas sobrepostas, típicas das criações de Joy Orbison, porém, encanta pelo uso de ambientações etéreas e vozes que convidam o ouvinte a flutuar.

Isso quer dizer que O’Grady abandonou os momentos de maior experimentação dos registros anteriores? De forma alguma. Exemplo disso acontece na lenta construção de Layer 6. São incontáveis camadas de sintetizadores e ruídos metálicos que se completam pela inserção de batidas pouco usuais, sempre labirínticas. O mesmo acontece em Glorious Amateurs, música em que parte de micro-ambientações de forma a brincar com a interpretação do público. O próprio uso de captações de campo e diálogos mundanos contribui para esse resultado, tornando a experiência de ouvir o disco bastante incerta.

É justamente essa ausência de certeza que torna a execução de Still Slipping tão interessante. Se por um lado falta ao registro a consistência esperada de um artista com mais de uma década de carreira, por outro, difícil não se deixar conduzir pelo ziguezaguear de ideias que orienta a experiência do ouvinte até os minutos finais do trabalho. Do momento em que tem início, na inexata W/ Dad & Frankie, até alcançar a já citada Born Slipping, evidente é o esforço de O’Grady em resgatar uma série de elementos que fizeram dele um dos nomes mais interessantes da cena inglesa, porém, ampliando o próprio campo de atuação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.