Image
Críticas

Neneh Cherry

: "Broken Politics"

Ano: 2018

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Trip-Hop, R&B, Alternativa

Para quem gosta de: Four Tet, Tirzah e Jorja Smith

Ouça: Kong e Black Monday

8.0
8.0

Resenha: “Broken Politics”, Neneh Cherry

Ano: 2018

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Trip-Hop, R&B, Alternativa

Para quem gosta de: Four Tet, Tirzah e Jorja Smith

Ouça: Kong e Black Monday

/ Por: Cleber Facchi 01/11/2018

Neneh Cherry é uma artista impecável. Perto de completar quatro décadas de carreira, a cantora e compositora sueca segue com a produção de faixas sempre pontuais, marcadas pelo forte discurso político, reflexões amargas sobre as relações humanas, conflitos pessoais e crônicas musicadas em que explora diferentes aspectos da nossa sociedade. Composições sempre guiadas pela minúcia das batidas, ponto de partida para o recém-lançado Broken Politics (2018, Smalltown Supersound).

Primeiro registro em estúdio de Cherry em quatro anos, o sucessor do elogiado Blank Project (2014) é, como a própria cantora define, uma obra de essência “silenciosa e reflexiva“. Inspirado pelo avanço de governos conservadores, além, claro, da recente morte do pai biológico da artista, o músico Ahmadu Jah (1936 – 2018), o trabalho joga com a sobriedade dos versos, conceito que se reflete tão logo o disco tem início, em Fallen Leaves, e segue até a construção da derradeira Soldier.

E o amor é grande em toda a Terra / Cada nação procura seus amigos na França e na Itália / E em todos os sete mares / Malditas armas e entranhas da história / O amor amargo ainda coloca um buraco em mim“, canta em Kong, música em que reflete sobre o próprio papel dentro dessa sociedade política, a relação entre diferentes povos e o caos interno que bagunça a mente de qualquer indivíduo. Um amadurecimento poético que se reflete em outras composições ao longo do disco, caso de Shot Gun Shack e Black Monday.

Concebido em parceria com Kieran Hebden, o Four Tet, Broken Politics oscila entre instantes de profundo recolhimento e faixas volumosas, musicalmente pensadas para valorizar cada verso lançado por Cherry. Canções como as sensíveis Poem Daddy e Synchronized Devotion em que a cantora sueca se entrega ao R&B em uma montagem delicada, contraponto estético ao material entregue em músicas como Natural Skin Deep, experimento guiado pela força das batidas e sirenes que correm ao fundo da composição.

De fato, desde o clássico Raw Like Sushi (1989), Cherry não entregava ao público uma obra tão diversa musicalmente. São colagens instrumentais, batidas, variações rítmicas e vozes carregadas de efeitos que mudam de direção a todo instante. Exemplo disso está na já citada Kong, música em que estreita a relação com o velho parceiro Robert Del Naja (Massive Attack) e vai do trip-hop ao reggae em uma estrutura marcada pelos detalhes. Uma rica costura de ideias e referências que se reflete em músicas como Black Monday, Fallen Leaves e a eletrônica Slow Release, composição que parece saída de algum álbum recente do próprio Four Tet.

Conciso e eficiente em sua mensagem, como tudo aquilo que vem sendo produzido por Cherry desde o início da carreira, Broken Politics evidencia a força e permanente amadurecimento poético da artista sueca. Em um intervalo de apenas 40 minutos de duração, a cantora parte de pequenas inquietações particulares, medos e reflexões pontuais para mergulhar na composição de um universo conceitualmente amplo, resultando na construção de uma obra que parece maior a cada nova audição.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.