Há dois anos, com o lançamento de LP.8 (2022), Kelly Lee Owens decidiu seguir um caminho diferente em relação aos primeiros registros de estúdio. Distante das pistas, a produtora, cantora e compositora galesa passou a investir em um repertório marcado pela experimentação, rompendo com o caráter dançante de obras como Inner Song (2020). Uma breve mudança de percurso, mas que parece totalmente abandonada quando mergulhamos nas canções do quarto e mais recente trabalho da artista, Dreamstate (2024, DH2).

Direto ao ponto, o registro de dez faixas vai ao encontro do mesmo território criativo de Fred Again, Romy e outros nomes da cena inglesa, porém, preservando a identidade criativa da produtora que estreou há sete anos com um registro homônimo. Como indicado no próprio título da obra, trata-se de um álbum marcado pelo uso de elementos oníricos, conceito reforçado pela maciez dos sintetizadores e vozes sempre etéreas.

Exemplo disso fica mais do que evidente na própria faixa-título do disco. São pouco mais de cinco minutos em que cada componente é revelado ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. Pinceladas instrumentais que surgem e desaparecem a todo instante, sempre orientadas pelas vozes que se dividem entre o canto seco e distorções ambientais. Entretanto, é na psicodelia dos sintetizadores, por vezes íntimos da acid house no início dos anos 1990, que Owens altera os estados da mente e convida o ouvinte a flutuar.

Quarta faixa do disco, Higher funciona como uma boa representação desse resultado. Do uso das vozes ao sempre meticuloso encaixe das batidas, sintetizadores e bases enevoadas, perceba como a artista parece interessada em brincar com a experiência do ouvinte. Mesmo quando se joga de cabeça nas pistas, como nas potentes Love You Got e Sunshine, a produtora tem sempre um componente transcendental em mãos.

Dessa forma, ao mesmo tempo em que volta a estreitar laços com as pistas, Owens garante ao público uma obra que parece sobreviver para além de um único propósito. São composições marcadas por momentos de maior contemplação e evidente melancolia, marca da já conhecida Ballad (In The End). A própria Dark Angel, posicionada nos minutos iniciais do disco, funciona como uma boa representação desse resultado. É como se a produtora fizesse do uso labiríntico dos sintetizadores um preparativo para o restante do álbum.

Mais do que isso, Dreamstate é um campo sempre aberto às possibilidades. Coproduzido em parceria com Tom Rowlands (The Chemical Brothers), Bicep e George Daniel (The 1975), o registro preserva e, ao mesmo tempo, perverte uma série de conceitos anteriormente testados pela artista. Composições que, vez ou outra, esbarram em estruturas, timbres e temas que parecem resgatados dos primeiros trabalhos da produtora, mas que acabam encontrando um ponto de ruptura que leva o repertório do disco para outras direções.

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