Cozinhando Discografias: Radiohead

/ Por: Cleber Facchi 18/10/2012

Por: Carlos Botelho e Cleber Facchi

A sessão Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Vale ressaltar que além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado da lista muito mais democrático e pontual.

Para a segunda edição da coluna vamos “reorganizar” a discografia da banda inglesa Radiohead, que em mais de duas décadas de atuação coleciona alguns dos registros mais importantes de toda a história da música recente.

Aviso: Não concordou com a ordem dos discos? Simples, mantenha a calma e use os comentários. Aproveite para indicar qual banda você gostaria que estivesse na próxima sessão.

#08. Pablo Honey
(Parlaphone/Capitol. 1993)

O que fazer quando uma música ofusca o álbum do qual ela faz parte? A resposta é incerta e isso acontece frequentemente no mercado fonográfico. Muitos escapam da maldição de pertencer ao time dos one hit wonder e prosperam na carreira, como no caso do quinteto britânico do Radiohead. Pablo Honey é um bom debut, mas não remete a praticamente nada ao som inventivo e impecável dos lançamentos do grupo que o sucedem, sendo caracterizado por ter uma sonoridade mais acessível ao grande público. O carro-chefe do álbum, Creep, teve circulação monstruosa na época do seu lançamento e prendeu a banda à sua sombra, o que gerou incertezas sobre o futuro do grupo. A crítica foi morna ao receber o disco na época e atualmente alguns graus se elevaram nas considerações sobre o trabalho, o levando ao status de álbum cult.

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#07. The King Of Limbs
(Independente, 2011)

“Diga com quem andas que te direi quem és”. Esta parece ser a premissa de The King Of Limbs, oitavo e mais recente álbum do quinteto inglês. Inteiramente construído em cima de acertos eletrônicos que flertam com a IDM, Dubstep e até com conceitos próprios trabalhados ao longo do disco Kid-A, o álbum reverbera a todo instante a amizade de Thom Yorke com importantes nomes da eletrônica experimental. Das programações não lineares de Four Tet (do disco There Is Love In You, 2010), passando pelas batidas etéreas que definem o Flying Lotus pós-Cosmogramma, a cada instante do disco a banda se deixa corromper. Surge assim um trabalho corrompido em relação as demais projetos do grupo, com o Radiohead se permitindo impregnar por experiências alheias, entregando a própria versão desses mesmos referenciais. Mesmo irregular o disco mantém o padrão de qualidade da banda, que acabou chamando as atenções em grande parte pelo clipe curioso de Lotus Flower.

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#06. Amnesiac
(Parlophone, 2001)

Espécie de “sobra de estúdio” das gravações do clássico Kid-A, em Amnesiac o Radiohead mantém os mesmos experimentos arquitetados um ano antes como base para cada mínima porção do disco. Muito mais etéreo do que o registro que precede, com o quinto álbum o grupo se afunda ainda mais em experimentos jazzísticos (Life In A Glass House), programações eletrônicas de encaminhamento assimétrico (Pulk/Pull Revolving Doors) e até uma versão particular da música pop, eixo cuidadosamente assumido no decorrer de Pyramid Song. Com as líricas repletas de influências da cultura grega e egípcia, o disco é um dos trabalhos mais curiosos de toda a trajetória da banda, feito que o grupo amplia nitidamente com a construção de músicas complexas e atrativas na mesma medida. Um passeio onírico-instrumental pelo estranho universo da banda.

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#05. Hail to the Thief
(
Parlaphone. 2003)

Depois de dois grandes discos marcados pela desconstrução do som habitual, Hail to the Thief trouxe um som menos denso e com um elemento que tinha sido quase que esquecido pelo grupo: as guitarras. O disco mescla os sons eletrônicos e frenéticos de Kid A (2000) e Amnesiac (2001) com a memória das guitarras que embalavam o rock alternativo dos dois primeiros registros do grupo. O resultado soa como um respiro após um período intenso, mas sem perder o que já foi construído. Grande parte das letras foram moldadas pela revolta de Thom Yorke em relação a Guerra ao Terror, iniciativa militar norte-americana para combater o terrorismo depois de 11 de setembro. As sessões de gravações do álbum duraram apenas quatro semanas e várias músicas foram apresentadas previamente em apresentações do grupo. Hail to the Thief não é o melhor álbum do Radiohead, mas também não significa um retrocesso, ele é um meio termo necessário no currículo da banda.

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#04. The Bends
(
Parlaphone, Capitol. 1995)

O segundo álbum do Radiohead veio para acabar com qualquer dúvida sobre a capacidade (e a qualidade) musical do grupo. Lançado após um recesso relativamente curto, The Bends, representou uma grande amadurecimento em relação ao registro anterior, tanto nas composições, quanto na sonoridade. Thom Yorke descobriu novas maneiras de entonar os vocais das canções (os falsetes) e os instrumentais fugiram do convencional, o que trouxe uma atmosfera menos comercial e mais experimental ao trabalho, proposta essa em que o grupo adentrou mais e mais a cada lançamento. O disco não provocou revoluções apenas no cenário musical, o impacto do registro também se estendeu à própria carreira do grupo, apagando a imagem de hitmakers e começando um legado de produções consistentes e de valor atemporal.

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#03. In Rainbows
(Independente, 2007)

Provavelmente o trabalho mais conhecido do grupo além do eixo dos fãs, In Rainbows tem sua importância confirmada não apenas por aproximar o quinteto de uma sonoridade mais comercial e atrativa, mas por virar boa parte da industria musical, público e imprensa de cabeça para baixo. “Pague o quanto você quiser”, com esta premissa os britânicos entregaram o sétimo registro em estúdio aos comandos do ouvinte, que poderia baixar/comprar o álbum de acordo com o preço que ele acreditasse ser justo – o disco poderia inclusive ser baixado de graça se assim considerasse o “comprador”. A ação, inusitada para uma gigante da industria fonográfica, foi o tema de diversas reportagens que analisavam os rumos das vendas de disco e pirataria mundo afora, principalmente quando a banda afirmou ter lucrado mais com o álbum do que toda a venda dos registros anteriores. Musicalmente, In Rainbows apresenta uma sonoridade mais “tátil” do ponto de vista etéreo de Kid A ou Amnesiac, transformando Bodysnatchers, Videotape e All I Need em composições mais uma vez memoráveis para a trajetória do grupo.

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#02. Kid A
(Parlaphone, Capitol. 2000)

Se Kid A fosse um membro da nobreza medieval se chamaria “Kid A, o Revolucionário”. O álbum surgiu da ideia ambiciosa de Thom Yorke e companhia de fazer um trabalho que se distanciasse totalmente do que as pessoas estavam habituadas a ouvir e interpretar como música. O disco mistura jazz e música clássica com ruídos eletrônicos, o que resultou em um som totalmente novo, intenso, frenético, complexo e depressivo. Jonny Greenwood deixou de lado o título de grande guitarrista para mergulhar em um mundo de sons computadorizados nada convencionais, se afastando completamente de qualquer acorde que o consagrou como músico. Com esse lançamento o Radiohead queria fugir do sucesso alcançado com o lançamento de OK Computer, mas o resultado foi exatamente o oposto: o álbum alcançou méritos ainda maiores que o disco anterior. Vendas, críticas, prêmios (incluindo um Grammy de melhor álbum alternativo) e aceitação do público, tudo contribuiu para que Kid A se torna-se  um dos melhores álbuns de todos os tempos.

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#01. OK Computer
(Parlophone/Capitol, 1997)

Em 1996 o Radiohead teve de tomar uma decisão: voltar ao resultado comercial que havia tingido o primeiro disco da banda, ou aperfeiçoar os mesmos experimentos incorporados ao longo do último trabalho do grupo, The Bends. Basta uma rápida audição de OK Computer para perceber qual foi a escolha dos britânicos. Melódico na forma como despeja uma avalanche de “hits” – Paranoid Android, Exit Music (for a Film), Karma Police e No Surprise -, o projeto de vanguarda na maneira como absorve jazz, eletrônica e o rock progressivo de maneira peculiar, da primeira à última canção o terceiro disco do grupo inglês se preenche de acertos e rumos não óbvios revelados a cada nova audição. Inteiramente melancólico e capaz de estabelecer algumas previsões (humanas, políticas e tecnológicas), o disco se estabelece como uma ponte entre o rock alternativo de outrora e as invenções conceituais que o grupo viria a desenvolver nos trabalhos seguintes. Primeiro exemplar em parceria com o produtor Nigel Godrich (que viria a se transformar no sexto membro do coletivo), OK Computer não é apenas o melhor disco da década de 1990, como é facilmente uma das obras mais surpreendentes de toda a história da música.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.