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Crítica

A. G. Cook

: "Apple"

Ano: 2020

Selo: PC Music

Gênero: Pop, Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Charli XCX, 100 gecs e SOPHIE

Ouça: Oh Yeah e The Darkness

7.5
7.5

A. G. Cook: “Apple”

Ano: 2020

Selo: PC Music

Gênero: Pop, Eletrônica, Experimental

Para quem gosta de: Charli XCX, 100 gecs e SOPHIE

Ouça: Oh Yeah e The Darkness

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2020

Poucos artistas souberam como aproveitar do período de isolamento de forma tão criativa quanto A. G. Cook. Em um intervalo de poucos meses, o produtor, compositor e cantor britânico não apenas esteve envolvido em uma série de obras importantes para a música pop, como How I’m Feeling Now (2020), de Charli XCX, e o EP La Vita Nuova (2020), de Christine and The Queens, como deu vida ao primeiro trabalho em carreira solo, o extenso 7G (2020). São 49 faixas e pouco menos de três horas de duração em que o artista inglês parece testar os próprios limites dentro de estúdio, colidindo diferentes formas e temas instrumentais de forma deliciosamente inexata.

Poucos meses após lançamento do material, Cook, que já colaborou com nomes como Hannah Diamond e Caroline Polachek, está de volta com outro registro de inéditas: Apple (2020, PC Music). Naturalmente conciso quando próximo do disco que o antecede, o álbum de apenas dez faixas deixa de lado o caráter experimental do artista para reforçar o que há de mais acessível, estrutura que se reflete não apenas no uso destacado das vozes, como na composição dos versos, sempre guiados por conflitos sentimentais e experiências capazes de dialogar com uma ampla frente de ouvintes.

Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos do disco, em Oh Yeah. Declaradamente inspirada pela obra de Shania Twain, a canção reflete o que há de mais expressivo no pop dos anos 1990, porém, dentro da linguagem torta de Cook. “Eu estava realmente inspirado por Shania Twain e como suas vozes límpidas e furtivas contam tanto sobre a música quanto suas letras. A canção em si, como a maioria das músicas pop, é realmente sobre confiança e escapismo, e como essas coisas podem parecer agridoces”, escreveu no texto de apresentação da faixa, apontando a direção seguida em grande parte do álbum.

Exemplo disso acontece na sequência formada por The Darkness e Jumper. São pouco mais de oito minutos em que o produtor britânico confessa algumas de suas principais referências criativas, passa pelo pop dos anos 1980, se entrega ao R&B e mergulha na produção eletrônica enquanto o violão de aço ganha cada vez mais destaque. Uma colorida sobreposição de ritmos, fórmulas instrumentais e pequenas divergências estéticas que talvez fossem tratadas de forma exageradamente caricata nas mãos de outro artista, mas que funcionam quando percebemos a abordagem estilizada do compositor inglês.

Entretanto, muito se engana quem pensa que Apple reflete apenas o lado mais acessível da obra de Cook. A todo momento, o produtor rompe com a lógica do disco para mergulhar em faixas marcadas pela experimentação. É o caso da já conhecida Xxoplex. Pouco mais de dois minutos em que o artista brinca com a imprevisibilidade dos elementos, passeando em meio a sintetizadores caóticos, vozes picotadas e batidas que vão do trap ao bubblegum bass. O mesmo resultado acaba se refletindo em Animals, releitura para música homônima de Oneohtrix Point Never, e Airhead, faixa que mostra a capacidade do fundador da PC Music em amarrar diferentes abordagens criativas dentro de um curto intervalo de tempo.

Com base nessa estrutura, Cook garante ao público uma versão resumida do material entregue em 7G, porém, tão inventiva quanto o registro que o antecede. Claro que essa escolha em lançar duas obras bastante similares em um curto intervalo interfere no caráter de ineditismo e surpresa em torno do álbum. Entretanto, enquanto o disco anterior se organizava como um evidente exercício de estilo, revelando sete direções criativas diferentes, com o presente registro o resultado passa a ser outro. Instantes em que o músico deixa a identidade de produtor para adotar a imagem de um artista pop, atendendo aos desejos do público de forma ainda mais eficiente.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.