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Crítica

Charli XCX

: "How I'm Feeling Now"

Ano: 2020

Selo: Atlantic / Asylum

Gênero: Pop, R&B, Electropop

Para quem gosta de: Rina Sawayama e 100 gecs

Ouça: Forever, Claws e Anthems

7.8
7.8

Charli XCX: “How I’m Feeling Now”

Ano: 2020

Selo: Atlantic / Asylum

Gênero: Pop, R&B, Electropop

Para quem gosta de: Rina Sawayama e 100 gecs

Ouça: Forever, Claws e Anthems

/ Por: Cleber Facchi 25/05/2020

Em pleno processo de divulgação do colaborativo Charli (2019), obra que contou com a presença de nomes como Christine and The Queens, HAIM e Sky Ferreira, Charli XCX se viu forçada a cancelar todos os compromissos e se trancar em casa por conta da pandemia de Covid-19. Entretanto, sempre prolífica, a cantora e compositora inglesa decidiu aproveitar do período de isolamento para investir em um novo registro de inéditas, How I’m Feeling Now (2020, Atlantic / Asylum), álbum que preserva a essência do disco entregue há poucos meses, porém, estabelece na melancolia dos versos e inquietações estimuladas pelo próprio distanciamento a passagem para um trabalho de essência documental.

Brilho labial e eu estou parecendo uma estrela / Tenho uma bolsa pequena, mas tenho um grande coração / Na conversa por vídeo, saia fofa e sutiã / Estou me sentindo tão bem, meio que me sentindo uma vadia“, brinca na introdutória Pink Diamond, faixa em que utiliza desse novo jeito de se relacionar à distância como estímulo para a composição dos versos. São letras sempre intimistas e libertadoras, como se uma vez imersa nesse ambiente restrito, a cantora fosse capaz de rever diferentes aspectos da própria vida sentimental, estrutura que se reflete em outros momentos ao longo da obra.

São músicas como I Finally Understand (“Amor, eu te amo muito / Porque eu finalmente entendo / Que talvez esse sentimento que eu encontrei / Pode me matar, me colocar no chão“) e Forever (“Eu tenho que lhe dar tempo para crescer / Você não é um fantasma, você está na minha cabeça / Eu não queria te deixar triste“), em que parece revisitar memórias de um passado ainda recente, porém, sob um novo ponto de vista. É como se a cantora adotasse uma postura menos inconsequente, talvez sóbria, em relação aos antigos trabalhos, estímulo para a discussão de temas como autoaceitação, estabilidade emocional e novas interpretações sobre o amor.

Curioso perceber na formação das batidas, ruídos e temas eletrônicos um direcionamento completamente oposto ao da formação dos versos. Do momento em que tem início, em Pink Diamond, passando pela formação de músicas como 7 Years, I Finally Understand e C2.0, Charli XCX mais uma vez encontra no uso de pequenas corrupções estéticas a base para grande parte das canções. São ambientações sujas e vozes sempre carregadas de efeitos, conceito que tem sido explorado pela cantora desde o experimental Vroom Vroom (2016), mas que ganha ainda mais destaque com as canções do presente álbum.

Parte desse resultado vem da escolha da própria artista em não apenas estreitar a relação com alguns de seus principais parceiros de estúdio, caso de A. G. Cook e Danny L Harle, como o de se aproximar de outros nomes importantes que surgiram nos últimos anos. É o caso do experiente BJ Burton (Bon Iver, BANKS), produtor que transporta o som da artista para um novo território criativo. O mesmo acerto acaba se refletindo em Claws, música que se abre para os ruídos metálicos e vozes sempre distorcidas de Dylan Brady, uma das metades do 100 gecs, e colaborador recente da cantora.

Despretensioso, como tudo aquilo que define a obra de Charli XCX, How I’m Feeling Now encanta justamente pela forma como a cantora se aprofunda em temas complexos, porém, preservando a leveza dos últimos registros autorais. Canções que preservam tudo aquilo que a cantora tem explorado desde o amadurecimento criativo em POP 2 (2017), porém, partindo de uma linguagem cada vez mais intimista, estrutura que passa pela imagem de capa e segue em cada fragmento poético detalhado ao longo do disco. Instantes de doce melancolia e libertação pessoal, como se a cantora transportasse parte das experiências acumuladas nos últimos meses para dentro do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.