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Crítica

Alan Palomo

: "World of Hassle"

Ano: 2023

Selo: Mom+Pop

Gênero: Synthpop

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Washed Out

Ouça: Stay-at-Home DJ e Nudista mundial ‘89

8.3
8.3

Alan Palomo: “World of Hassle”

Ano: 2023

Selo: Mom+Pop

Gênero: Synthpop

Para quem gosta de: Toro Y Moi e Washed Out

Ouça: Stay-at-Home DJ e Nudista mundial ‘89

/ Por: Cleber Facchi 27/09/2023

O saxofone cafajeste que invade a introdutória The Wailing Mall, canção de abertura em World of Hassle (2023, Mom + Pop), ajuda a entender o conceito explorado por Alan Palomo no primeiro trabalho em carreira solo. Longe de sua principal identidade criativa, Neon Indian, porém, ainda conectado com a música produzida na década de 1980, o cantor, compositor e produtor norte-americano aponta para o passado em um exercício tão caricatural quanto musicalmente provocativo. É como se o artista de ascendência mexicana emulasse a transição vivida por diferentes músicos que deixaram suas antigas bandas em busca de um repertório “adulto”, tratamento que vai da cômica imagem de capa aos versos.

Hábil artesão na manufatura de faixas altamente nostálgicas, Palomo passeia em meio a sintetizadores coloridos e linhas de baixo sempre suculentas, evidenciando o mesmo capricho e refinamento técnico explícito nos antigos trabalhos como Neon Indian, como no derradeiro VEGA INTL. Night School (2015). São composições que partilham de uma atmosfera noturna, como uma série investigativa dos anos 1980 onde personagens de índole duvidosa surgem e desaparecem a todo instante. “Ela é uma assassina, ela me disse isso / Garotos caem como dominósE eu morro de novo / E eu morro de novo“, canta na já conhecida Meutrière, deliciosa colaboração com a francesa Flore Benguigui, uma das vozes do grupo L’Imperatrice.

Claro que essa busca por um repertório soturno, sempre iluminado pelo brilho neon da década de 1980, em nenhum momento inviabiliza a construção de faixas deliciosamente descompromissadas e íntimas do mesmo pop retrô incorporado por Palomo nos primeiros trabalhos como Neon Indian. Exemplo disso fica bastante evidente em Stay-At-Home DJ. Marcada pela atmosfera tropical, a composição conduz o ouvinte em direção ao passado, porém, encontra na fluidez dos sintetizadores e sofisticado flerte com o jazz um precioso componente de renovação, indicativo do claro esforço do músico em testar os próprios limites.

Essa mesma euforia e riqueza de detalhes fica ainda mais explícita na ensolarada Nudista Mundial ’89. Completa pela participação do cantor e compositor canadense Mac DeMarco, a faixa destaca o que há de mais acessível no som produzido por Palomo e ainda chama a atenção pelo uso de versos cantados em espanhol. É como se o artista seguisse de onde parou com a última composição como Neon Indian, Toyota Man, em que reflete de forma política sobre a situação vivida pelos imigrantes nos Estados Unidos, porém, partindo de uma abordagem totalmente reformulada, efeito direto da letra hedonista que invade a canção.

Vem justamente desse olhar atento de Palomo para a cultura latina o estímulo para algumas das canções mais representativas do disco. É o caso de La Madrileña. Enquanto a base da faixa mais uma vez destaca o minucioso processo de criação do instrumentista, revelando camadas de sintetizadores e guitarras sempre estratégicas, versos cantados em espanhol detalham a relação do eu lírico com uma musa tão real quanto idealizada. “Talvez você saiba / Porque o amanhecer nasceu / Com os segredos que você guarda“, cresce a letra da composição que avança em uma medida própria de tempo, sem pressa, envolvendo o ouvinte.

Embora fundamentais para o desenvolvimento do trabalho, são esses momentos de maior calmaria que acabam comprometendo a segunda metade do registro. Passada a entrega do sophisti-pop hipnótico de Nobody’s Woman, World of Hassle desacelera consideravelmente, mergulhando em uma sequência de faixas bastante similares. É como um contraponto aos momentos iniciais do disco, estrutura que torna a experiência do ouvinte talvez arrastada, porém, nunca desinteressante, resultado do sempre minucioso processo de criação do artista que mantém o refinamento de cada uma das canções até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.