Disco: “VEGA INTL. Night School”, Neon Indian

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2015

Neon Indian
Electronic/Chillwave/Synthpop
http://www.neonindian.com/

 

O globo espelhado gira lentamente. Nas paredes, tiras de neon se espalham por todos as partes como setas, guiando o espectador por um caminho marcado pelo uso excessivo de drogas, passos descompassados de dança, vestidos de lantejoulas e declarações de amor que seguem até o letreiro colorido que ilumina a pista: VEGA INTL. Night School.

Quatro anos após o último álbum, Era Extraña (2011), o músico norte-americano Alan Palomo ultrapassa os limites de uma simples obra de estúdio, transformando o terceiro registro de inéditas do Neon Indian em uma verdadeira de discoteca conceitual. Em um exercício nostálgico que se estende desde a estreia com Psychic Chasms, de 2009, cada faixa do trabalho, mais do que um produto referencial, abraça os costumes, exageros e elementos típicos dos clubes de dança que explodiram entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990. Kitsch, retrô, vintage ou mera cópia, não importa, do momento em que o som empoeirado de Hit Parade tem início, todo o colorido universo que marca a boa fase da New Wave/Italodisco é minuciosamente resgatado pelo produtor.

Escolhida para apresentar o trabalho, Annie, sintetiza com naturalidade o lado “pop” de todo o registro. São mais de quatro minutos em que vozes, guitarras e sintetizadores lançados pelo músico circulam em um cenário essencialmente radiofônico, perfumado pela essência tropical de artistas como Mr. President, Inner Circle e DJ Bobo. Sobram ainda pequenas doses da Disco Music e farelos de R&B, conceito que serve de estímulo para a formação de faixas como Smut! e The Glitzy Hive, representantes da obra de Michael Jackson e outros veteranos do período.

No restante da obra, uma explosão de cores, samples extraídos de diferentes décadas e artistas que parecem se encontrar em um cenário experimental, torto, como o resumo de uma noite turbulenta em uma discoteca atemporal. Giorgio Moroder e New Order em Techno Clique, Egyptian Lover e Prince no interior da crescente Baby’s Eyes e até um rápido passeio pela obra do The Police, além, claro, dos dois últimos álbuns de Neon Indian na trinca de encerramento do disco – C’est la vie (Say the Casualties!), 61 Cygni Ave e News From the Sun. Nada que se compare ao brilho e execução atenta de Slumlord.

Com pouco mais de cinco minutos de duração – quase oito somada a complementar faixa que chega logo em sequência -, Slumlord parece resumir todo o material pensado por Palomo em todo o registro. De abertura lenta, quase climática, a composição delicadamente prepara o terreno para a chuva de sintetizadores, flertes com o reggae e experimentos eletrônicos que se espalham de forma instável até o último e sentimental verso. Um constante cruzamento de ideias que poderia facilmente sufocar pelo excesso, mas encanta pela precisa sobreposição de ideias.

Conceitualmente amplo, feito para ser apreciado sem pressa, VEGA INTL. Night School faz de cada faixa uma peça isolada, rica em detalhes e recortes instrumentais. O mais interessante talvez seja perceber o quanto o disco está longe de parecer uma obra copiosa, exageradamente voltada ao passado, mantendo nas letras – sempre românticas e entristecidas – um expressivo diálogo com o presente. Uma constante sensação de que todo o material apresentado por Alan Palomo desde a estreia com Psychic Chasms finalmente alcançou sua melhor forma, sendo revelado em totalidade ao público.

 

VEGA INTL. Night School (2015, Transgressive / Mom & Pop)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Toro Y Moi, Twin Shadow e Washed Out
Ouça: Slumlord, Annie e Baby’s Eyes

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.