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Crítica

Duda Beat

: "Tara e Tal"

Ano: 2024

Selo: Universal

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Jaloo

Ouça: Saudade de Você, Teu Beijo e Na Tua Cabeça

8.2
8.2

Duda Beat: “Tara e Tal”

Ano: 2024

Selo: Universal

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Jaloo

Ouça: Saudade de Você, Teu Beijo e Na Tua Cabeça

/ Por: Cleber Facchi 17/04/2024

Perto do fechamento de Tara e Tal (2024, Universal), Duda Beat repete: “eu vou ficar na tua cabeça“. Ainda que fortemente relacionados aos temas românticos que embalam a composição de encerramento do disco, difícil não pensar nos versos detalhados pela pernambucana como uma manifestação do feito consolidado no terceiro álbum de estúdio, afinal, é praticamente impossível passar pelo material produzido em parceria com Tomás Tróia e Lux Ferreira e não sair cantarolando pelo menos uma das canções que integram a obra.

E não poderia ser diferente. Depois de dois ótimos trabalhos de estúdio, Sinto Muito (2018) e Te Amo Lá Fora (2021), além de incontáveis colaborações com diferentes nomes da cena brasileira, a artista nascida Eduarda Bittencourt Simões parece ter alcançado o completo domínio sobre a própria criação. São faixas talvez consumidas pela previsibilidade dos temas, quase sempre mergulhadas em conflitos sentimentais, porém, moldadas de forma pouco usual, efeito direto do vasto catálogo de estilos adotados pela cantora.

Em um intervalo de poucos minutos, a artista vai das guitarras de Lúcio Maia, replicando a icônica Côco Dub (Afrociberdelia), parte do álbum Da Lama ao Caos (1994), estreia de Chico Science & Nação Zumbi, para logo em seguida mergulhar em uma combinação de sintetizadores melódicos e batidas eletrônicas que parecem vindas diretamente de alguma música do Crystal Castles. Uma estranha sobreposição de ritmos e formas instrumentais, mas que funciona dentro do universo proposto desde o primeiro trabalho.

Nesse espaço aberto às possibilidades, a cantora vai de Saudade de Você, faixa que dialoga com o miami bass e funk dos anos 1990, para o rock de NiGHT MARé, com suas guitarras altamente carregadas, sem necessariamente fazer disso estímulo para uma obra confusa. Pelo contrário, parece bastante natural ver a artista transitando por entre estilos, vide a riqueza de elementos que tomam conta de Teu Beijo, um drum and bass com pitadas de pop que atualiza aquilo que DJ Patife e Fernanda Porto testaram vinte anos antes.

Toda essa pluralidade de estilos brilhantemente amarrados em parceria com Tróia e Lux faz com que as faixas mais lineares sejam justamente as menos interessantes do trabalho. É o caso de Baby, música que encanta pela riqueza dos versos (“Gosto de te aproveitar / Bebo água devagar“), mas que esbarra em um reggaeton formulaico e que pouco acrescenta quando próximo de outros exemplares do gênero, vide o ainda recente NTGM (2023), de Carlos do Complexo. A própria parceria com Liniker, em Quem Me Dera, é outra que passa despercebida, soando como um dos vários encontros genéricos da artista pernambucana.

Entretanto, sempre que tropeça em uma canção menor, a cantora logo surpreende com uma faixa que mais uma vez muda os rumos do trabalho e leva o ouvinte para outras direções. É como se diferentes propostas criativas, gêneros e referências estéticas fossem condensadas dentro de cada música. Mesmo composições já conhecidas, como Preparada, ganham novo significado quando observadas como parte do rico catálogo de ideias que vai da surrealista imagem de capa a cada mínimo fragmento poético, rítmico e instrumental.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.