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Crítica

Vampire Weekend

: "Only God Was Above Us"

Ano: 2024

Selo: Columbia

Gênero: Indie Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Dirty Projectors e Fleet Foxes

Ouça: Capricorn, Mary Boone e Classical

8.8
8.8

Vampire Weekend: “Only God Was Above Us”

Ano: 2024

Selo: Columbia

Gênero: Indie Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Dirty Projectors e Fleet Foxes

Ouça: Capricorn, Mary Boone e Classical

/ Por: Cleber Facchi 10/04/2024

Poucas vezes antes um trabalho do Vampire Weekend pareceu tão direto e ao mesmo tempo complexo quanto Only God Was Above Us (2024, Columbia). Contraponto ao repertório entregue em Father Of The Bride(2019), registro que marca a adaptação e busca de Ezra Koenig por diferentes possibilidades após a saída do principal parceiro criativo, o multi-instrumentista Rostam Batmanglij, o registro de dez canções encanta ao assumir um percurso torto e autorreferencial, porém, totalmente livre de possíveis excessos.

Declaradamente inspirado pela cidade de Nova Iorque, seus personagens e acontecimentos mundanos ao longo das últimas décadas do século XX, Only God Was Above Us se apresenta como uma pitoresca colcha de retalhos e crônicas musicadas, contudo, estabelece em simbologias políticas um importante diálogo com o presente. “Inverídico, cruel e antinatural / Como o cruel, com o tempo, se torna clássico“, canta Koenig em Classical, composição que trata sobre a naturalização da violência dentro da sociedade norte-americana em uma abordagem que atravessa diferentes épocas, incontáveis referências e retalhos de fatos históricos.

É como se Koenig a todo momento olhasse para o passado em busca de respostas e talvez conforto ao ser amparado por uma nostalgia não vivenciada, porém, percebesse que o sentimento de degradação e a corrupção humana sempre esteve lá, independente do período de tempo. E isso se reflete diretamente no tipo de sonoridade incorporada ao trabalho. São canções que buscam emular o estilo de produção e o pop de câmara da década de 1960, porém, corroídas pelo permanente uso de ruídos, efeitos e captações sujas.

Exemplo disso fica bastante evidente em Capricorn. Enquanto os versos destacam o lirismo inquietante de Koenig (“Quem constrói o futuro? / Eles se importam por quê?“), arranjos empoeirados, como se saídos de algum disco dos Beach Boys, são aos poucos consumidos por ondas de distorções metálicas que reforçam a atmosfera decadente e sensação desamparo que invade o álbum. O mesmo se percebe em The Surfer, música que espalha seus arranjos cinematográficos em uma cama suja, corrompendo o que há de belo.

Embora parta de uma abordagem pessimista, Only God Was Above Us se encerra de maneira esperançosa. “O profeta disse que iríamos desaparecer / O profeta se foi, mas ainda estamos aqui“, canta em Hope, faixa que surge como um precioso contraponto ao restante da obra. E ela não é a única. Assim como em Modern Vampires of The City (2013), sempre que tende à melancolia, Koenig e seus parceiros de banda, o baixista Chris Baio e o baterista Chris Tomson, criam pequenos pontos de ruptura que levam o disco para outras direções. Canções como Connect e Gen-X Cops que logo apontam para os primeiros trabalhos da banda, vide a forte similaridade com a proposta ensolarado de músicas como Mansard Roof, A-Punk e Cousins.

São criações e sentimentos sempre contrastantes. Canções que combinam recordações da infância e fatos historiográficos com uma naturalidade única, vide o brilhantismo explícito em Mary Boone, faixa em que parte de uma icônica colecionadora de arte dos anos 1980 para tratar sobre a degradação da memória e a decadência dos indivíduos. Um vasto e ainda assim bem resolvido catálogo de ideias, direcionamento que se completa pela característica produção de Ariel Rechtshaid, abre passagem para novos colaboradores, como Dev Heynes, mas a todo momento se volta a um universo próprio de Koenig e seus companheiros.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.