Image
Crítica

Aldous Harding

: "Warm Chris"

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Cate Le Bon e Jenny Hval

Ouça: Fever e Leathery Whip

8.0
8.0

Aldous Harding: “Warm Chris”

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Cate Le Bon e Jenny Hval

Ouça: Fever e Leathery Whip

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2022

Desde que deu início à parceria com John Parish (PJ Harvey, Sparklehorse), Hannah Sian Topp, a Aldous Harding, tem vivido um de seus períodos criativos mais férteis. Partindo de uma abordagem pouco usual, sempre marcada por momentos de maior experimentação e delirante diálogo com a música pop, a cantora e compositora neozelandesa parece interessada em testar os próprios limites dentro de estúdio. São canções que partem sempre de uma base reducionista, porém, acabam revelando incontáveis camadas instrumentais, texturas e narrativas que parecem pensadas para tensionar a experiência do ouvinte.

Sequência ao material entregue pela artista no bem recebido Designer (2019), Warm Chris (2022, 4AD) evidencia esse curioso processo de criação adotado por Harding. A exemplo de Cate Le Bon e outros nomes recentes que têm explorado a estética e o estilo de produção da década de 1970, a musicista aponta para o passado, porém, carrega na construção dos versos um precioso senso de atualização. Composições que passeiam em meio a cenas descritivas, memórias e inquietações, direcionamento que tem sido explorado e aprimorado em estúdio desde a entrega de Party (2017), início da parceria com Parish.

A diferença em relação aos trabalhos que o antecedem, principalmente Designer, está na forma como Harding investe em uma obra cada vez mais hermética. São composições que orbitam um universo bastante particular, por vezes inacessível. Do uso das vozes ao tratamento dado aos arranjos, cada mínimo fragmento do álbum parece pensado para potencializar a atmosfera misteriosa que orienta as criações da artista. Um lento desvendar de ideias e sensações, proposta que talvez custe a impressionar o ouvinte mais apressado, porém, contribui para o forte aspecto imersivo que a musicista parece interessada em alcançar.

Não por acaso, parte expressiva das canções utiliza de uma arquitetura bastante similar. São pianos elétricos, metais, guitarras e batidas cuidadosamente trabalhadas em estúdio, sempre discretas, como se pensadas para acompanhar as vozes detalhadas por Harding. Mesmo nos momentos mais acessíveis do trabalho, como nas já conhecidas Fever e Lawn, a artista neozelandesa nunca ultrapassa o que parece ser um limite criativo bastante característico. Mais do que garantir respostas e composições imediatas, a beleza de Warm Chris sobrevive justamente no recolhimento e delicada costura das informações.

Exemplo disso fica bastante evidente em She’ll Be Coming Round the Mountain, composição que reduz o uso dos instrumentos de forma a alavancar as vozes cristalinas e sentimentos sutilmente detalhados por Harding. “Vivendo pelas coisas que amo / Matando aqueles que me amam“, confessa. A própria música de encerramento do disco, Leathery Whip, encanta pela forma como a artista utiliza de pequenos acréscimos e remoções de forma a orientar a experiência do ouvinte. São camadas de pianos, batidas e vozes que fazem lembrar do som produzido por Nico em registros como o também delicado Desertshore (1970).

Livre de composições como The Barrel e demais faixas potencialmente acessíveis que serviram para aproximar o som produzido por Harding de uma parcela maior do público, Warm Chris é uma obra que exige uma audição atenta, da primeira à última composição. Mais uma vez acompanhada por um seleto time de instrumentistas, a cantora parece brincar com as possibilidades, porém, dentro de um ambiente bastante particular. São inserções minuciosas, quebras e costuras rítmicas que a cada movimento se distanciam de um resultado imediato, porém, capturam a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.