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Crítica

Ana Frango Elétrico

: "Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua"

Ano: 2023

Selo: Risco / Mr Bongo / Think! Records

Gênero: Pop Rock, Funk, MPB

Para quem gosta de: Sophia Chablau e Besouro Mulher

Ouça: Insista Em Mim, Electric Fish e Camelo Azul

8.6
8.6

Ana Frango Elétrico: “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”

Ano: 2023

Selo: Risco / Mr Bongo / Think! Records

Gênero: Pop Rock, Funk, MPB

Para quem gosta de: Sophia Chablau e Besouro Mulher

Ouça: Insista Em Mim, Electric Fish e Camelo Azul

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2023

Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua (2023, Risco / Mr Bongo / Think! Records) é uma verdadeira carta de amor de Ana Frango Elétrico à música brasileira. Sequência ao material entregue no bem-sucedido Little Electric Chicken Heart (2019), o trabalho parte de uma audição atenta sobre a produção nacional entre os anos 1970 e 1980, aponta para a obra de veteranos da indústria, principalmente personagens que atuaram nos bastidores, mas em nenhum momento deixa de lado a vulnerabilidade poética. São composições que destacam a força dos sentimentos, estreitam laços e reverberam para além de qualquer qualidade técnica.

Pegue o que quiser de mim / Me plante agora em seu jardim / E se eu murchar, me regue / Insista em mim“, clama na delicada Insista Em Mim, composição em que confessa algumas de suas principais referências, porém, preservando a própria identidade criativa. São ecos de nomes importantes como Roberto Carlos e Cassiano, arranjos que destacam o encontro entre a música brasileira e o soul norte-americano, porém, preservando a relação com o núcleo emocional que serve de sustento à obra. É como um fino componente de amarra que aproxima o repertório essencialmente diverso e sempre detalhista desenvolvido por Ana.

Interessante notar que tamanha sensibilidade poética seja percebida justamente no trabalho em que Ana mais se distancia do processo de composição para assumir o papel de intérprete. São faixas que orbitam um mesmo universo temático, como se escolhidas a dedo. Exemplo disso pode ser percebido em Camelo Azul. Originalmente composta por Vitor Conduru, a música parece feita sob medida para o registro que vai de relacionamentos fracassados à discussão sobre gênero. “Seu cheiro me lembra meu lado feminino mas hoje sou menino / Seu cabelo brega / Sua jaqueta amarela / Me deixa transar com você“, canta. Canções, arranjos e sensações que delicadamente ampliam o que foi apresentado em Little Electric Chicken Heart.

Observado em proximidade aos dois registros que o antecedem, incluindo o introdutório Morma​ç​o Queima (2018), Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua talvez seja o exercício criativo mais diverso e ao mesmo tempo consistente de Ana. São composições que partem de experiências sentimentais para explorar um universo de novas possibilidades, diferentes ritmos e estilos, vide o inusitado flerte com a música eletrônica em Let’s Go To Before Again. Um vasto conjunto de ideias que talvez se perdesse nas mãos de um artista iniciante, mas que aqui se apresenta de forma a revelar um material capaz de brincar com os sentidos do ouvinte.

Parte desse resultado vem não apenas do natural amadurecimento em estúdio, mas do trabalho exercido na produção de diferentes exemplares da música brasileira recente, como a estreia de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e os últimos lançamentos de Julia Branco e Bala Desejo. É como se Ana soubesse exatamente que direção seguir ao longo da obra. O resultado desse processo está na entrega de um registro marcado pela evidente segurança dos arranjos, melodias, ritmos e vozes, proposta que vai da colorida combinação de estilos que captura a atenção do ouvinte logo na inaugural Electric Fish e segue em meio a criações como Dela, reencontro com o rapper Joca, ou mesmo na melancólica Nuvem Vermelha.

Tamanha fluidez e controle criativo no processo de construção do trabalho faz com que mesmo canções menores ou menos interessantes, como Coisa Maluca, em nenhum momento prejudiquem o andamento do material. Pelo contrário, há sempre um componente surpresa que leva o ouvinte para outras direções, como a inusitada releitura para Dr. Sabe Tudo, parte do álbum Rubinho e Força Bruta (2004), de Rubinho Jacobina. São diferentes interpretações sobre a música brasileira. Um misto de homenagem e preservação da própria identidade artística que a todo instante destaca a grandiosidade do som de Ana Frango Elétrico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.