Image
Crítica

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo

: "Música Do Esquecimento"

Ano: 2023

Selo: Risco

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Besouro Mulher e Pelados

Ouça: Segredo e Quem Vai Apagar A Luz

8.4
8.4

Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo: “Música Do Esquecimento”

Ano: 2023

Selo: Risco

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Besouro Mulher e Pelados

Ouça: Segredo e Quem Vai Apagar A Luz

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2023

A massa de ruídos logo nos minutos iniciais de Minha Mãe É Perfeita, canção de abertura em Música Do Esquecimento (2023, Risco), ajuda a entender parte da mudança de direção adotada pelos membros do grupo paulistano Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo no segundo e mais novo trabalho de estúdio. Denso, como se rompesse com a leveza instalada no homônimo disco entregue há dois anos, o registro produzido pelo compositor e pianista Vitor Araújo evidencia o esforço do quarteto em ampliar o próprio campo de atuação. São composições que destacam um amadurecimento talvez forçado, mas que em nenhum momento parecem ocular a poética bem-humorada e frescor tão característico da banda.

Não por acaso, Segredo foi a primeira composição do trabalho a ser revelada ao público. Enquanto os versos refletem a melancolia impregnada nos romances de membros da comunidade LGBTQIA+ (“Mas se você quiser / Eu viro um segredo seu / Não faço barulho nem chamo atenção / De ninguém“), batidas e guitarras urgentes levam o disco para outra direção, rompendo com qualquer traço de sobriedade e estimulando o ouvinte a dançar. São estruturas contrastantes e dinâmicas pouco usuais que tornam a experiência de ouvir o material sempre satisfatória e totalmente imprevisível, reforçando a versatilidade em estúdio do grupo formado pelos músicos Sophia Chablau, Téo Serson, Theo Ceccato e Vicente Tassara.

É como se cada composição servisse de passagem para um novo e sempre inusitado território criativo, jogando com a expectativa do ouvinte. Em Quem Vai Apagar A Luz, são guitarras carregadas de efeitos e delírios jazzísticos que se completam pela participação de Negro Leo, uma das principais referências criativas do quarteto paulistano. Minutos à frente, em Qualquer Canção, toda essa euforia dá lugar a um pop enevoado, destacando as vozes de Chablau. Nada que permaneça com a chegada de As coisas que não te ensinam na faculdade de filosofia, composição que contrasta a suavidade de uma típica música de câmara com a onda de ruídos que invade as harmonias de vozes e arranjos de sopro de Henrique Albino.

Claro que essa escolha do quarteto em avançar com liberdade a cada nova composição tem seus riscos. Passada a combinação de vozes e guitarras labirínticas que invade a hipnótica faixa-título, o registro assume um percurso cada vez mais instável, por vezes confuso. São curvas ocasionais que rompem com a fluidez explícita nos minutos iniciais do trabalho, como em Último Sexo, música que se arrasta em meio a batidas e vozes lentas, custando a avançar. Felizmente, para cada momento de maior instabilidade que surge ao longo do disco, há sempre um componente de ruptura que provoca e volta a fascinar o ouvinte.

Parte desse resultado vem do esforço contínuo da banda em brincar com a contrastante sobreposição dos elementos. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada por No Princípio era o Verbo e Baby Míssil. Enquanto a primeira composição avança em uma medida própria de tempo, destacando a poética contemplativa de Chablau, minutos à frente somos surpreendidos pela entrega de um material que se revela sem grandes dificuldades, resultando em uma combinação de guitarras que soam como uma versão atualizada dos Novos Baianos. Um misto de calmaria e caos que segue até os momentos finais do registro.

Com base nesse insano cruzamento de informações, diferentes ritmos e vozes, Música Do Esquecimento é um trabalho que naturalmente exige o regresso do ouvinte até que seja totalmente absorvido. Mesmo que faixas como Segredo e Baby Míssil pareçam capazes de encantar logo em uma primeira audição, sobrevive nos pequenos detalhes e incontáveis camadas instrumentais a real beleza do registro. Coproduzido por Ana Frango Elétrico e repleto de participações especiais, como Juliana Perdigão e Bebé, o segundo álbum da banda paulistana é uma obra viva e em constante processo de expansão. Um acumulo natural de tudo aquilo que os membros do grupo têm explorado dentro e fora de estúdio desde a entrega do disco anterior.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.