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Crítica

Animal Collective

: "Time Skiffs"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Experimental, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Panda Bear e The Flaming Lips

Ouça: Prester John e Royal and Desire

8.5
8.5

Animal Collective: “Time Skiffs”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Experimental, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Panda Bear e The Flaming Lips

Ouça: Prester John e Royal and Desire

/ Por: Cleber Facchi 09/02/2022

Se levarmos em consideração o vasto repertório apresentado pelo Animal Collective nos anos 2000, difícil não pensar na última década como uma fase pouco proveitosa para a banda de Baltimore. Passado o lançamento do divisivo Centipede Hz (2012), o quarteto formado por Avey Tare (David Portner), Panda Bear (Noah Lennox), Deakin (Josh Dibb) e Geologist (Brian Weitz) deu vida a uma série de outros registros menores ou mesmo esquecíveis quando próximos do material entregue nos cultuados Strawberry Jam (2007) e Merriweather Post Pavilion (2009). É como se os quatro integrantes estivessem muito mais interessados nos próprios trabalhos em carreira solo do que na relação como grupo, vide o aparecimento de obras bastante significativas, caso de Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015) e Sleep Cycle (2016).

Prazeroso perceber em Time Skiffs (2022, Domino), mais recente lançamento do quarteto, a passagem para uma obra tão provocativa quanto o material entregue na boa fase do Animal Collective. Primeiro trabalho de estúdio com os quatro integrantes reunidos desde Centipede Hz, o sucessor do mediano Painting With (2015) preserva a busca do grupo por uma sonoridade cada vez mais acessível, porém, pontuada por momentos de maior delírio que tensionam a experiência do ouvinte. Um misto de conforto permanente agitação criativa que acaba se refletindo em cada mínimo fragmento instrumental e poético do registro.

Vem justamente desse inusitado processo criativo a escolha da banda em fazer de Prester John a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. Concebida a partir do encontro entre duas músicas distintas, uma composta por Panda Bear e outra por Avey Tare, a faixa de mais de seis minutos concentra o que há de melhor na obra do quarteto estadunidense. Enquanto os versos partem da queda de uma figura mitológica cristã, camadas de sintetizadores, ruídos e harmonias de vozes se entrelaçam de forma sempre misteriosa, conceito reforçado nos minutos finais da canção, onde o grupo, mais uma vez, muda de direção.

Essa mesma ausência de certeza acaba se refletindo durante toda a execução do trabalho. Enquanto músicas como Strung with Everything trazem de volta a potência de registros como Fall Be Kind (2009) e Brother Sport (2009), outras, como a derradeira Royal and Desire, encantam pelo maior refinamento dado aos versos. “A música fecha meus olhos / Faz lembrar minha luta / Para saber o caminho“, cresce a letra da canção, curiosamente sóbria, enquanto ambientações sublimes transportam o quarteto para um novo território. Mesmo a faixa de abertura, Dragon Slayer, com suas sobreposições borbulhantes, parece indicar a direção plural seguida pelo quarteto, conceito que dialoga com a própria imagem de capa do material.

Tamanha riqueza de detalhes e criativa combinação de ideias faz de Time Skiffs uma obra feita para ser desvendada pelo ouvinte. São incontáveis camadas instrumentais, texturas, batidas e vozes que mudam de direção a todo instante. É como se o quarteto resgatasse o mesmo caráter exploratório de registros como Feels (2005), efeito direto da costura inexata dos elementos, porém, partindo de uma abordagem ainda mais imprevisível. Exemplo disso acontece na já conhecida We Go Back, canção que utiliza de elementos típicos da música pop, mas que se espalha em um labirinto de ambientações, quebras e formas irregulares.

Parte desse resultado vem do delirante cruzamento de informações que marca o processo de produção do trabalho. Originalmente gravado em 2020, Time Skiffs levou quase dois anos até ser finalizado e entregue ao público. Com sessões divididas entre Lisboa, onde reside Panda Bear, e Asheville, na Carolina do Norte, o álbum nasce como um produto do período de isolamento social, proporcionando ao grupo a chance de se debruçar em cima de cada composição por muito mais tempo. Não por acaso, esse talvez seja o registro mais complexo da banda desde Merriweather Post Pavilion, esmero que se percebe até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.