Disco: “Painting With”, Animal Collective

/ Por: Cleber Facchi 25/02/2016

Animal Collective
Experimental/Psychedelic/Electronic
http://myanimalhome.net/

 

A ideia parecia boa: inspirados pelos principais movimentos artísticos do começo do século XX – como dadaísmo e surrealismo -, David Portner (Avey Tare), Noah Lennox (Panda Bear) e Brian Weitz (Geologist) construíram a base do décimo registro em estúdio do Animal Collective, Painting With (2016, Domino). Uma confessa (e inicialmente curiosa) visita ao passado, mas que acaba se perdendo em meio a experimentos e fórmulas que parecem requentadas pela banda desde o fim da última década.

Ambientado no mesmo universo do antecessor Centipede Hz, de 2012, Painting With mostra o coletivo norte-americano brincando com o mesmo jogo de formas eletrônicas, vozes e temas psicodélicos testadas há quatro anos, porém, de forma menos “esquizofrênica”. Uma versão contida da mesma coleção de vozes e ruídos sintéticos testados em Applesauce, Monkey Riches e até em faixas memoráveis como Peacebone, de Strawberry Jam (2007), e Brother Sport, canção de encerramento da obra-prima Merriweather Post Pavilion (2009).

Curiosamente, esse talvez seja o trabalho que mais dialoga com o som produzido no oitavo álbum de estúdio da banda. Seja na forma “instrumental” como as vozes são detalhadas, passando pelo uso de melodias que remetem ao trabalho de veteranos como The Beach Boys, durante toda a execução da obra, diversas pontes conceituais levam o ouvinte ao mesmo cenário de 2009. Um caminho seguro para a banda, mas que ignora quem esperava por um registro verdadeiramente inovador, íntimo das constantes transformações do grupo em começo de carreira.

Não é difícil passear aleatoriamente pelas faixas de Painting With e pensar: “Eu já ouvi isso antes”. E talvez tenha ouvido. Da forma como os arranjos partem de uma mesma fonte eletrônica, repetitiva em grande parte da obra, não seria um erro pensar que tudo não passa de uma coletânea de sobras dos dois últimos trabalhos em carreira solo de Panda Bear e Avey Tare. É fácil visualizar Summing The Wretch como parte do bem-sucedido Panda Bear Meets the Grim Reaper (2015) e Vertical como uma peça perdida do esquizofrênico Enter The Slasher House (2014).    

Entre os raros instantes de inovação do disco, faixas como Recycling e Lying In The Grass. Enquanto a primeira soa como parte da trilha sonora de um jogo de video game, a segunda mostra o lado insano e ao mesmo tempo “comercial” do grupo. São vozes, batidas e encaixes eletrônicos que criam um verdadeiro labirinto na cabeça do ouvinte. Um caminho que se parte em possibilidades, criando brechas para a interferência do saxofonista Colin Stetson, junto do veterano John Cale (The Velvet Underground), um dos colaboradores do disco.

Com uma abordagem superficial dos próprios movimentos que o grupo apresenta como base para a obra, vide a aberração pop que é FloriDada, faixa de abertura do álbum e uma das piores composições da banda, o presente álbum chega ao público como uma obra essencialmente descartável. Mesmo a variedade de capas produzidas pela banda soa muito mais como um exercício comercial do que provocativo. Em Painting With, não há nada que você não possa encontrar de forma muito mais instigante em outros trabalhos da banda.

 

Painting With (2016, Domino)

Nota: 5.5
Para quem gosta de: Panda Bear, Avey Tare e Of Montreal
Ouça: Lying In The Grass, Recycling e Hocus Pocus

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.