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Crítica

Antônio Neves

: "Deixa Com a Gente"

Ano: 2024

Selo: Mexxe

Gênero: Samba, Jazz

Para quem gosta de: Thiago França e Bruno Bruni

Ouça: Dinamite, Abóbora e Rua Mata Cavalos, 91

8.0
8.0

Antônio Neves: “Deixa Com a Gente”

Ano: 2024

Selo: Mexxe

Gênero: Samba, Jazz

Para quem gosta de: Thiago França e Bruno Bruni

Ouça: Dinamite, Abóbora e Rua Mata Cavalos, 91

/ Por: Cleber Facchi 17/06/2024

Difícil ouvir as composições de Deixa Com a Gente (2024, Mexxe) e não pensar em Antônio Neves como uma espécie de avatar do próprio Rio de Janeiro. Da bem-humorada imagem de capa às canções que aos poucos deixam o jazz do antecessor A Pegada Agora É Essa (2021) para abraçar o samba, cada fragmento do disco destaca o sempre curioso olhar do multi-instrumentista carioca sobre a Cidade Maravilhosa, seus personagens, diferentes cenários e acontecimentos em um direcionamento tão reverencial quanto cômico.

Logo de cara, em Dinamite, o músico propõe uma homenagem ao time do Vasco, seus torcedores e ao icônico Roberto Dinamite, um dos jogadores mais representativos do time carioca. São pouco mais de três minutos em que o artista parte pra cima do ouvinte em uma frenética combinação de estilos, ampliando o que havia testado no disco anterior. Nada que a embriagada Carismático, com seu samba autodepreciativo, não dê conta de perverter, desacelerando para reforçar a veia cômica proposta pelo multi-instrumentista.

Com a chegada de Rua Mata Cavalos, 91, o centro do Rio de Janeiro mais uma vez invade a obra do artista. Enquanto os versos semi-declamados funcionam como um passeio pelas ruas da Lapa, percussão, metais e vozes engrandecem a composição, destacando o trabalho de Neves como arranjador. Essa mesma riqueza no processo de criação fica ainda mais evidente com a chegada de Pé Na Aldeia, um samba descomplicado e, por isso mesmo, arrebatador, como se feito para grudar na cabeça do ouvinte logo na primeira audição.

Movida pelo mesmo espírito festivo, Abóbora segue a trilha explorada pelo músico nas duas canções que a antecedem, porém, estabelece nos versos um curioso senso de ruptura. Diferente de outros exemplares do gênero, que naturalmente soam como um convite ao hedonismo, a faixa segue o caminho oposto, tratando sobre a necessidade de ir embora para que outros excessos não sejam cometidos. “Já deu minha hora vou me embora e digo que eu não posso mais ficar“, avisa Neves enquanto o ritmo da composição corre solto.

Passada essa sequência de composições marcadas pela euforia dos arranjos, Talvez um Glauber chega para contrastar. Quase uma vírgula dentro do disco, a homenagem ao músico Glauber Seixas, parceiro de composição de Neves, começa pequenas, destacando o uso do violão e vozes que emulam o jeito de cantar de Jards Macalé, porém, cresce nos minutos finais. É como um preparativo para o que se revela na criação seguinte, 17 de Janeiro, faixa que pouco avança criativamente, mas em nenhum momento deixa de prender a atenção do ouvinte, efeito do sempre meticuloso tratamento dado a cada instrumento dentro da canção.

De volta ao tom cômico que marca os minutos iniciais do registro, Lá Tinha chega para encerrar o disco. Ainda que menos impactante e talvez repetitiva em relação ao material entregue em canções como Pé Na Aldeia e Abóbora, a música cumpre com excelência a função de encerrar o trabalho. É como um samba infinito, efeito direto da letra cíclica que se encerra e inicia quase que instantaneamente, proposta que soa como um convite indireto a revisitar as canções de Deixa Com a Gente no segundo seguinte ao fim da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.