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Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The War On Drugs e The National

Ouça: End of the Empire IV e The Lightning II

6.5
6.5

Arcade Fire: “WE”

Ano: 2022

Selo: Columbia

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The War On Drugs e The National

Ouça: End of the Empire IV e The Lightning II

/ Por: Cleber Facchi 16/05/2022

Em algum momento entre The Suburbs (2010) e Reflektor (2013), o Arcade Fire parece ter perdido um importante poder de síntese que fez dos primeiros trabalhos de estúdio produzidos pela banda registros tão singulares. Se em início de carreira o coletivo canadense parecia administrar sem grandes dificuldades o esforço de diferentes instrumentistas, colaboradores e vozes dentro e fora dos estúdios, vide a potência de obras como Funeral (2004) e Neon Bible (2007), com o passar dos anos, o que se viu foi a produção de um repertório cada vez menos complexo, porém, mascarado pelo uso de conceitos e ferramentas de divulgação que pareciam maiores do que os próprios discos. Exemplo disso ficou bastante evidente durante a montagem do divisivo Everything Now (2017), quinto álbum de inéditas do grupo de Montreal.

Interessante perceber em WE (2022, Columbia), primeiro trabalho de estúdio do Arcade Fire após um intervalo de cinco anos, uma tentativa de regresso aos primeiros registros de inéditas. Conceitualmente dividido em duas metades bastante características, “I” e “We“, o álbum sustenta na porção inicial uma extensão madura do repertório entregue pela banda no disco anterior. Enquanto o material apresentado em Everything Now parecia debochar do modo de vida e aspectos comportamentais da sociedade norte-americana, marca de músicas como a polêmica Creature Comfort, com a presente obra, Win Butler e Régine Chassagne, dois principais idealizadores do projeto, se aprofundam no processo de composição.

E isso fica bastante evidente do bloco inicial do trabalho, quando a banda mergulha em temas como ansiedade, medo e distanciamento, reforçando aspectos vividos por diferentes indivíduos durante o período de isolamento social. De fato, a primeira coisa que ouvimos com maior clareza na abertura do álbum é o som das batidas, emulando um coração acelerado, estímulo para a construção dos versos que refletem o tom angustiado da obra – “Na idade em que ninguém dorme / E as pílulas não fazem nada por mim / Na era da ansiedade“. É como um tortuoso, porém, necessário exercício criativo, conceito que vai da decadência expressa em End of the Empire IV (Sagittarius A*) aos temas políticos de The Lightning I.

Passado esse momento de maior melancolia, The Lightning II abre passagem para a porção seguinte do disco. Entre batidas rápidas e sintetizadores nostálgicos que apontam para a obra de Bruce Springsteen, Butler e Chassagne se concentram na produção de um repertório marcado pela celebração. São versos que tratam de reencontros e da união entre os povos, como um contraponto à primeira metade do trabalho. Instantes em que a banda canadense traz de volta uma série de elementos originalmente testados em The Suburbs, como a combinação entre componentes eletrônicos e acústicos, porém, acompanhados de um lirismo tão simplista e raso que mais parece extraído de algum livro de autoajuda ou filosofia barata.

Eu serei sua raça e religião / Você é minha raça e religião / Esse amor não é superstição / Corpo e alma unidos“, cresce a letra de Unconditional II (Race and Religion), música completa pela participação de Peter Gabriel, parceiro de longa data do grupo canadense. É como uma mudança de chave muito brusca em relação ao bloco inicial do disco, onde parte expressiva dos temas são explorados de forma acinzentada e realista, reforçando a forte carga emocional dos versos. Composições que utilizam de uma simplificação exacerbada dos elementos, como um regresso ao mesmo território criativo detalhado em Everything Now.

Mesmo instável e pontuado por composições que utilizam de um sentimentalismo barato, WE marca um importante processo de transformação na carreira do Arcade Fire. Co-produzido em parceria com Nigel Godrich (Radiohead, Paul McCartney), o trabalho evidencia uma maior integração entre o casal formado por Butler e Chassagne. A própria artista canadense assume parte expressiva dos arranjos e utiliza das vozes de forma bastante destacada, rompendo com a formação de atos isolados, marca dos primeiros registros da banda. É como um precioso exercício de transição. Canções que preservam e sutilmente distorcem tudo aquilo que tem sido incorporado pelo grupo em mais de duas décadas de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.