Image

Ano: 2023

Selo: Verve

Gênero: Música Ambiente, Jazz

Para quem gosta de: Brian Eno e Laraaji

Ouça: To Remain / To Return e Shadow Forces

8.0
8.0

Arooj Aftab, Vijay Iyer & Shahzad Ismaily: “Love In Exile”

Ano: 2023

Selo: Verve

Gênero: Música Ambiente, Jazz

Para quem gosta de: Brian Eno e Laraaji

Ouça: To Remain / To Return e Shadow Forces

/ Por: Cleber Facchi 07/04/2023

Quando observados no isolamento de suas próprias criações, Arooj Aftab, Vijay Iyer e Shahzad Ismaily seguem por vias bastante particulares. Enquanto a musicista saudita utiliza de uma abordagem quase transcendental, o pianista descendente de indianos preza pelo refinamento dos arranjos, direcionamento que contrasta com o experimentalismo do multi-instrumentista filho de pais paquistaneses. Interessante perceber em Love In Exile (2023, Verve), primeiro trabalho assinado de forma colaborativa entre os três músicos, uma obra que concentra elementos de cada parceiro, porém, se articula de forma homogênea.

Lembrando os encontros entre Brian Eno e diferentes colaboradores entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980, como Laraaji e Jon Hassell, o trabalho de seis faixas avança aos poucos, oscilando entre improvisos e sobreposições que apontam para os registros mais recentes de cada instrumentista. É como uma extensão natural do repertório entregue por Aftab em Vulture Prince (2021), estrutura que rompe com a psicodelia libertadora expressa em músicas como Mohabbat para se aprofundar em um território marcado pelo forte aspecto contemplativo, sempre regidos pelos versos em idioma urdu da musicista.

Gravado ao vivo, em um estúdio em Nova Iorque, e apresentado ao público sem grandes edições, Love In Exile é uma obra marcada pelo aspecto orgânico, como se cada colaborador estivesse perfeitamente alinhado com seus parceiros. Não por acaso, parte expressiva das composições parecem trabalhadas em uma medida própria de tempo. São inserções sutis, por vezes orientadas pelo habitual minimalismo que caracteriza as criações de Iyer e Aftab, porém, nunca de forma previsível, efeito direto do esforço coletivo em transitar por entre nuvens de sons cósmicos e ambientações que mudam de direção ao todo instante.

Mesmo que a introdutória To Remain/To Return funcione como uma boa representação desse resultado, reside na ambientação soturna e lento desvendar de informações em Shadow Forces, terceira faixa do disco, um dos momentos de maior consonância do trabalho. Enquanto os pianos de Iyer se revelam ao público em pequenas doses, o baixo sintético e bases orquestradas por Ismaily parecem aumentar a densidade do material. São estruturas labirínticas, sempre fluidas, como uma trama instrumental que se completa pelas vozes ora carregadas, ora acolhedoras que Aftab busca detalhar ao longo da criação.

Outra que chama a atenção pela capacidade do trio em transitar por entre estilos mesmo utilizando de uma abordagem econômica é Eyes Of The Endless. Faixa mais extensa do disco, a canção de quase 15 minutos parte de uma base densa e sombria, produtor direto das experimentações de Ismaily, porém, aos poucos transporta o ouvinte para um mundo totalmente mágico. Dos pianos cristalinos de Iyer, passando pela voz impecável de Aftab, cada elemento da composição parece servir de estímulo para o movimento seguinte, como uma longa, ainda que satisfatória e sempre gratificante, jornada poética e instrumental.

Dotado de um ritmo próprio, Love In Exile utiliza desse lento desvendar de informações para manter as atenções em alta e hipnotizar o ouvinte, porém, tende ao uso de pequenas repetições e estruturas que comprometem o desenvolvimento do trabalho. São inserções econômicas que vão dos pianos de Iyer às bases contemplativas de Ismaily, proposta que talvez funcione na expansão natural de uma performance ao vivo, mas que ecoa de maneira excessivamente contida em estúdio. Canções que exigem tempo, mas que em nenhum momento diminuem a interação e forte equilíbrio que orienta o trio ao longo do registro.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.