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Crítica

Ava Rocha

: "Néktar"

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Letrux e Anelis Assumpção

Ouça: Beijando Todos Vocês, Disfarce e On/Off

8.2
8.2

Ava Rocha: “Néktar”

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Letrux e Anelis Assumpção

Ouça: Beijando Todos Vocês, Disfarce e On/Off

/ Por: Cleber Facchi 18/07/2023

Néktar (2023, YB Music), como tudo aquilo que Ava Rocha tem apresentado desde o início da década passada, é um álbum difícil de ser saboreado logo em uma primeira audição. Mesmo conciso e moldado como o registro mais acessível já revelado pela cantora e compositora carioca, são necessários alguns regressos e boas goladas até que o trabalho produzido em parceria com Jonas Sá e Thiago Nassif seja integralmente absorvido pelo ouvinte. Uma exercício que parte da simplificação dos elementos quando próximo do antecessor Trança (2018), mas que revela diferentes texturas, sabores e possibilidades.

Passagem para esse cenário tão realista quanto idílico, Baby, É Tudo Um Sonho, com seus sintetizadores e percussão sempre calculada, apresenta parte das regras e elementos que serão incorporados pela cantora ao longo do trabalho. São versos marcados pela força dos sentimentos, canções que tratam sobre encontros e desencontros, e pequenas manifestações poéticos que deixam transbordar a essência feminina de Rocha, conceito que tem sido incorporado desde o introdutório Diurno (2011), aprimorado em Ava Patrya Yndia Yracema (2015), mas que ganha novo e curioso tratamento nas criações que embalam o presente disco.

Exemplo disso fica bem representado em On/Off, canção em que parte da temática dos amores incertos, porém, utiliza de uma abordagem que atravessa as telas de celulares para mergulhar em aplicativos de relacionamentos. “Te vejo online / Curtindo meu dia / Só que pra tu eu to off / E disso tu já sabia“, canta em meio a jogos de palavras, flertes com a música eletrônica e bases cíclicas que fazem lembrar do som de Otto em Samba Pra Burro (1998). Essa mesma combinação de elementos pode ser percebida em Disfarce, composição em que rompe com uma estrutura tradicional para se aventurar em um território sintético que destaca os teclados de Sá e as guitarras Nassif, como se saídas do material entregue em Mente (2020).

Nada que prejudique a construção de faixas próximas de uma abordagem tradicional. É o caso de Longe Longe de Mim. Enquanto os versos marcados pelo forte sentimento de desapego buscam se livrar de um antigo amor (“Longe de ti / Sou mais eu / Longe de mim / Tu é ninguém“), Rocha e seus parceiros caem no samba em uma canção que soa como um respiro dentro do disco. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais interessante na música seguinte, Lua Absurda, composição que destaca a riqueza de detalhes, uso das vozes e incontáveis cruzamentos rítmicos presentes durante toda a execução do material.

Se por um lado essa combinação de estilos amplia os limites do trabalho, por outro, resulta na entrega de canções que parecem deslocadas do restante da obra. É o caso da própria faixa-título, música que soa muito mais como uma sobra do material entregue no colaborativo Sal Gruesa (2020), parceria com os colombianos do Los Toscos, do que necessariamente parte substancial do disco. O mesmo acontece quando nos deparamos com Barco Nos Pés, composição que partilha da dramaticidade explícita em Ava Patrya Yndia Yracema e pouco dialoga com o fino repertório ou mesmo a sonoridade explorada em Néktar.

A questão é que, mesmo essas canções que soam como curvas breves dentro do trabalho, alterando os rumos do material, em nenhum momento diminuem o refinamento estético e evidente entrega da artista. Como indicado logo na surrealista imagem de capa, uma criação de Maíra Senise, com quem já havia colaborado anteriormente, Néktar serve de passagem para um mundo regido por regras próprias. Uma saborosa combinação de elementos que utiliza de sentimentos e narrativas vividas por qualquer indivíduo, porém, deliciosamente remodeladas por Rocha e seus colaboradores. Dessa forma, a cantora brinca com as possibilidades do início ao fim da obra, em Beijando Todos Vocês, música que pontua o disco com um ar alegre de despedida e ainda soa como convite a reviver as experiências propostas ao longo do registro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.