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Crítica

Avalon Emerson

: "& The Charm"

Ano: 2023

Selo: Another Dove

Gênero: Eletrônica, Dream Pop

Para quem gosta de: Yaeji e Axel Boman

Ouça: Sandrail Silhouette e A Dam Will Always Divide

8.0
8.0

Avalon Emerson: “& the Charm”

Ano: 2023

Selo: Another Dove

Gênero: Eletrônica, Dream Pop

Para quem gosta de: Yaeji e Axel Boman

Ouça: Sandrail Silhouette e A Dam Will Always Divide

/ Por: Cleber Facchi 10/05/2023

Nome importante da cena eletrônica Avalon Emerson acumula uma sequência de faixas prontas para as pistas, remixes para nomes importantes como Robyn, Four Tet, Slowdive e Christine and The Queens, além de passagens em coletâneas como a série DJ-Kicks. Entretanto, ao mergulhar no primeiro álbum de estúdio da carreira, & The Charm (2023, Another Dove), a produtora, cantora e compositora norte-americana decidiu investir em uma abordagem diferente. São composições que deixam as batidas em segundo plano para destacar a construção dos arranjos, melodias e vozes sempre marcadas pela força dos sentimentos.

Música de abertura do trabalho, a já conhecida Sandrail Silhouette sintetiza de forma bastante eficiente esse resultado. Enquanto os versos soam como um convite (“Conte-me sobre sua vida / Eu quero ouvir sobre seus sonhos“), guitarras carregadas de efeitos, batidas e ambientações etéreas e transportam o ouvinte para um mundo mágico. É como se Emerson partilhasse do mesmo pop etéreo de veteranos como Cocteau Twins, porém, aterrizando na psicodelia dançante do Primal Scream. Um misto de passado e presente que orienta de forma sensível a experiência do público durante toda a execução do material.

Claro que essa busca por novas possibilidades em nenhum momento distancia a produtora das pistas. Sexta composição do disco, Dreamliner funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de cinco minutos em que Emerson destaca o uso dos sintetizadores e batidas de forma hipnótica, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. O mesmo acontece na música seguinte, Hot Evening, faixa que acelera em relação ao restante do álbum, porém, sustenta na delicadeza das vozes um evidente ponto de equilíbrio, indicativo do completo domínio da artista em relação ao próprio trabalho.

Entretanto, é quando combina elementos desses dois universos que a produtora garante ao público algumas de suas melhores criações. E isso fica bem representado na faixa de encerramento do disco, A Dam Will Always Divide. Em um intervalo de quase nove minutos, Emerson destaca o uso das batidas, porém, potencializa a inserção dos instrumentos, como as guitarras marcadas pela distorção e bases submersas que apresentam em pequenas doses. A mesma riqueza de detalhes pode ser percebida em Karaoke Song, música que vai do dream pop ao techno em uma abordagem própria da estadunidense.

Dentro desse espaço marcado pelas possibilidades, surgem ainda canções que transportam o ouvinte para um novo território. Em Entombed In Ice, por exemplo, Emerson atravessa o som empoeirado da década de 1990 para mergulhar no indie pop dos anos 1990 e 2000, lembrando as criações de artistas como Club 8 e Camera Obscura. Outra que encanta sem grandes dificuldades é Astrology Poisoning. Da letra que trata sobre amadurecimento e pequenas transformações pessoais, passando pela construção dos arranjos e uso instrumental das vozes, cada fragmento da composição reflete o esmero e evidente entrega da produtora.

Embora detalhista, algumas das canções que integram o disco acabam passando quase despercebidas. É o caso de The Stone, criação de essência atmosférica que é praticamente engolida ao ser posicionada entre Astrology Poisoning e Dreamliner. O mesmo acontece com A Vision, faixa que soa como esboço quando próxima de Hot Evening e outras criações que garantem maior fluidez ao registro. Nada que realmente comprometa o desenvolvimento do trabalho. Tão logo tem início, em Sandrail Silhouette, Emerson convida o ouvinte a se perder em um ambiente onde sonhos, romances e desilusões se cruzam a todo instante, como uma expansão totalmente inesperada de tudo aquilo que a produtora havia testado anteriormente.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.