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Ano: 2022

Selo: 999

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Don L, Emicida e Tuyo

Ouça: Samba In Paris, Autoestima e Lágrimas

8.2
8.2

Baco Exu do Blues: “QVVJFA?”

Ano: 2022

Selo: 999

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Don L, Emicida e Tuyo

Ouça: Samba In Paris, Autoestima e Lágrimas

/ Por: Cleber Facchi 02/02/2022

Poucas vezes antes Baco Exu do Blues pareceu tão exposto quanto nas canções de QVVJFA? (2022, 999). Sequência ao material entregue pelo rapper no caseiro Não Tem Bacanal na Quarentena (2020), registro produzido e lançado no início do período de isolamento social, o trabalho de essência agridoce se divide entre momentos de maior celebração e versos consumidos pela dor. São composições ancoradas em relacionamentos fracassados, romances perfumados pelo sexo, medos e versos sempre intimistas, conceito que tem sido explorado desde o introdutório Esú (2017), mas que ganha novo resultado à medida que o artista baiano utiliza das próprias angústias como um importante componente de diálogo com o ouvinte.

Usamos drogas pra esconder nossa dor / Diamantes nas correntes pra ofuscar nossa dor / Cravejamos o sorriso, não vão ver nossa dor / Pago dez mil nesse tênis, tô pisando na dor“, detalha em Autoestima, música que sintetiza a fragilidade emocional explícita durante toda a execução da obra. É como uma fuga do repertório entregue durante o lançamento de Bluesman (2018), trabalho de essência grandiosa em que amarra conquistas pessoais e exaltações ao povo preto de forma sempre provocativa. Instantes em que o rapper preserva traços significativos da própria identidade criativa, porém, desaba emocionalmente.

Nesse sentido, quem for com sede ao pote talvez acabe se decepcionando com o material entregue pelo artista. Livre de qualquer traço de urgência, Baco investe em uma obra que exige tempo até se revelar por completo para o ouvinte. São canções que parecem montadas a partir de conflitos pessoais, crises existencialistas e momentos de maior melancolia, porém, nunca inacessíveis. É como a passagem para um território tão íntimo do rapper baiano quanto do próprio ouvinte. “Quantas vezes você já foi amado?“, questiona na introdutória Sinto Tanta Raiva, composição que concede título ao trabalho e aponta a direção seguida com naturalidade até a música de encerramento do álbum, a descritiva 4 da Manhã em Salvador.

Embora comedido e pontuado por questões existenciais, QVVJFA? em nenhum momento soa como uma obra arrastada, garantindo o ouvinte com uma seleção de faixas totalmente inebriantes, ainda íntimas do lirismo romântico expresso em Bluesman. E isso fica bastante evidente no bem-sucedido encontro com Glória Groove, em Samba In Paris. Pouco mais de quatro minutos em que a dupla se espalha em meio a declarações de amor e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte. “Nós dois no seu castelo entre poemas e crises / Vou estancar seu sangue, beijar as cicatrizes“, provoca a artista paulistana.

Entretanto, é justamente nos momentos de maior melancolia que o trabalho encanta e cresce. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do disco, quando mesmo a escolha dos samples contribui para esse direcionamento. Perfeita representação desse resultado acontece em Lágrimas. Enquanto os versos refletem a poesia confessional do artista baiano – “O perigo mora em minha memória / Cássia, eu sou poeta, mas não aprendi a amar” –, fragmentos de Lágrimas Negras, criação de Jorge Mautner interpretada por Gal Costa, garantem maior profundidade ao material. O mesmo acontece em Imortais e Fatais 2, música que ganha forma em meio a trechos de Tempo de Amor, colaboração entre Vinícius de Morais e Baden Powell.

Conceitualmente bem resolvido, como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte, QVVJFA? utiliza dessa forte homogeneidade entre as faixas como uma virtude e também uma fraqueza. Se por um lado é difícil não se deixar conduzir pela atmosfera reducionista que captura a atenção do ouvinte logo nos primeiros minutos, por outro, falta ao disco a mesma pluralidade de ideias e conceitos explorados nos registros anteriores. É como uma trilha introspectiva que se afasta lentamente do material revelado em Bluesman. Canções talvez menores, mas não menos significativas e dotadas da mesma poesia sensível.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.