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Crítica

Bad Bunny

: "YHLQMDLG"

Ano: 2020

Selo: Rimas

Gênero: Hip-Hop, Trap, Reggaeton

Para quem gosta de: J Balvin e Ozuna

Ouça: Vete, Pero Ya No e Ignorantes

8.3
8.3

Bad Bunny: “YHLQMDLG”

Ano: 2020

Selo: Rimas

Gênero: Hip-Hop, Trap, Reggaeton

Para quem gosta de: J Balvin e Ozuna

Ouça: Vete, Pero Ya No e Ignorantes

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2020

Romances fracassados, noites embriagadas e instantes de profunda entrega sentimental. Em YHLQMDLG – uma abreviação para “Yo Hago Lo Que Me da La Gana“, em português “Eu faço o que quero” –, Benito Antonio Martínez Ocasio, o Bad Bunny, segue de onde parou durante a produção do primeiro álbum de estúdio da carreira, o bem-recebido X 100pre (2018). São versos consumidos pela saudade e o permanente desejo do eu lírico em encontrar um novo amor, estrutura que assume contornos festivos durante a entrega do ainda recente Oasis (2019), colaboração com o colombiano J Balvin, mas que volta a se repetir de forma ainda mais sensível em cada uma das canções que recheiam o presente registro do rapper porto-riquenho.

Vá embora / Ninguém está te segurando e a porta está aberta / Não se preocupe pela gente, nossa história já está morta / Espero que você seja feliz e se divirta / Mas não volte aqui“, canta em Vete, canção escolhida para anunciar a chegada do registro e uma clara síntese de tudo aquilo que Ocasio entrega ao público até a derradeira <3. Um misto de trap, reggaeton e R&B, estrutura que naturalmente aponta para o trabalho de veteranos como Drake, com quem colaborou em Mia, mas que em nenhum momento corrompe a identidade criativa do porto-riquenho, efeito direto do romantismo agridoce que serve de sustento ao disco.

O mesmo direcionamento poético acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho. É o caso de Pero Yo No, terceira faixa do álbum. “Você era meu J.Lo, eu, seu Alex Rodrígue / Mas agora eu gosto de outro assassino que mora em Bayamón / Você não me pega mais, eu não sou um Pokémon … Porque antes eu te amei, mas não mais / Gostei de você, mas não mais / Eu era para você, mas não mais“, segue em um misto de canto e rima, estrutura que volta mais à frente, em Ignorantes (“E eu não sei por que você nos deixou / Se você me ama e eu te amo / Normal, eu sei que às vezes brigamos / Mas que delicioso quando xingamos“) e Yo Perreo Sola (“Ligo para você se ele precisar de ti / Mas por enquanto ela está sozinha“), parceria com Nesi.

A principal diferença entre Bad Bunny e outros nomes recentes da cena latina está no maior refinamento melódico que embala o trabalho do artista. Exemplo disso está na própria faixa de abertura do disco, Si Veo a Tu Mamá. Com produção assinada por Elikai e Subelo NEO, parceiros de Ocasio durante toda a execução da obra, a canção parte de uma releitura de Garota de Ipanema, clássico de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, porém, sutilmente mergulha em R&B minimalista, conceito que acaba se repetindo em outros momentos ao longo da obra. São inserções minuciosas, sempre detalhistas, estímulo para a composição do pop etéreo de La Santa, música que lembra as ambientações de Kanye West em The Life of Pablo (2016), e La Difícil, composição que convida o ouvinte a dançar, porém, preserva o mesmo cuidado explícito no restante da obra.

Mesmo nesse universo de pequenos acertos, versos confessionais e faixas marcadas pelo minimalismo dos elementos, sobrevive na longa duração da obra um dos principais problemas de YHLQMDLG. Não há como ignorar o peso do trabalho e a evidente repetição de ideias que toma conta da segunda metade do registro. São 20 faixas e pouco mais de 60 minutos de duração, estrutura que naturalmente faz lembrar de Drake no misto de álbum e playlist que embala os recentes More Life (2017) e Scorpion (2018). Uma estrutura que talvez funcione na aleatoriedade das plataformas de streaming, mas que custa a convencer no isolamento da própria obra.

Entretanto, uma vez imerso nesse cenário marcado pela forte sensibilidade dos versos, difícil escapar da poesia intimista e fino toque de leveza que orienta a obra de Bad Bunny. Ponto de encontro para diferentes nomes da música porto-riquenha, como Daddy Yankee, Ñengo Flow e Arcangel, YHLQMDLG segue uma trilha particular, como uma fuga do trap sexista que tradicionalmente caracteriza a produção de outros nomes recentes do gênero. Canções marcadas pelo lirismo introvertido, sexualidade ambígua, referências à cultura pop e busca por novas possibilidades, proposta que naturalmente preserva a essência do antecessor X 100pre, porém, aporta em novos territórios criativos.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.