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Crítica

BaianaSystem

: "O Mundo Dá Voltas"

Ano: 2025

Selo: Máquina de Louco

Gênero: MPB, Dub, Reggae

Para quem gosta de: Russo Passapusso e Curumin

Ouça: A Laje e Cobra Criada / Bicho Solto

8.5
8.5

BaianaSystem: “O Mundo Dá Voltas”

Ano: 2025

Selo: Máquina de Louco

Gênero: MPB, Dub, Reggae

Para quem gosta de: Russo Passapusso e Curumin

Ouça: A Laje e Cobra Criada / Bicho Solto

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2025

Com o lançamento de O Futuro Não Demora (2019), Russo Passapusso e seus companheiros de banda no BaianaSystem conseguiram estabelecer um conceito criativo que vinha sendo desenvolvido desde Duas Cidades (2016). São registros essencialmente marcados pelo colorido cruzamento de estilos, forte discurso político e diálogos com artistas vindos dos mais variados campos da música brasileira e internacional. Um exercício talvez formulaico em termos de estrutura, mas que está longe de ser encarado como previsível.

Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada de O Mundo Dá Voltas (2025, Máquina de Louco). Quinto e mais recente trabalho de estúdio do coletivo baiano, o registro que conta com produção de Daniel Ganjaman traz de volta uma série de elementos que fizeram do grupo um dos mais importantes do cenário brasileiro ao longo da última década. Composições que, mesmo marcadas pelo lirismo contestador, como um chamado a encarar a realidade, em nenhum momento perdem a leveza e o notável aspecto dançante.

A principal diferença em relação a outros trabalhos apresentados pela banda está no maior destaque dado aos colaboradores e diferentes parceiros criativos que surgem durante toda a execução da obra. Ainda que muitos desses elementos e relações tenham sido construídas durante o lançamento do registro anterior, o extenso OxeAxeExu (2021), prevalece nas canções do presente disco um maior equilíbrio nas dinâmicas e incontáveis atravessamentos de informações que potencializam a força do grupo baiano como um coletivo.

Mais do que simples convidados, cada voz ou instrumentista que surge ao longo do trabalho assume uma função tão importante quanto a de qualquer outro integrante do BaianaSystem. Da rima milimetricamente calculada de Emicida, em A Laje, composição que ainda se completa pelo canto macio de Melly, aos versos interpretados por Alice Carvalho em Balacobaco, música que se engrandece pela participação de Anitta, sobram momentos que destacam a intensa relação construída dentro de estúdio pelo grupo soteropolitano.

Dessa forma, mesmo quando esbarra em conceitos e temáticas anteriormente testadas pelo BaianaSystem em outros lançamentos, O Mundo Dá Voltas trata tudo com incontestável frescor. Da relação com a cultura afro-latina, em Porta Retrato da Família Brasileira, ao regionalismo de Praia do Futuro e Palheiro, delineada pela guitarra de Manoel Cordeiro, difícil não ceder aos encantos da banda. Surgem até composições que destacam o lado mais acessível do grupo, como Magnata, parceria com Buguinha Dub que parece saída de algum trabalho do Skank nos anos 1990, e Cobra Criada / Bicho Solto, potente parceria com Pitty e Vandal.

Lançado às vésperas do Carnaval, quando o grupo baiano costuma desfilar com o disputado bloco Navio Pirata, O Mundo Dá Voltas é um disco que encontra na força do coletivo o estímulo para um repertório feito para ser cantado a plenos pulmões. Mesmo que muitos dos elementos incorporados ao longo do material pareçam criativamente apoiados nos antigos trabalhos da banda, evidente é o esforço do BaianaSystem em fazer desse olhar atento para o próprio passado o estímulo para uma obra que continua a mirar no futuro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.