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Crítica

Beach House

: "Once Twice Melody"

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Deerhunter e Slowdive

Ouça: Superstar e New Romance

8.4
8.4

Beach House: “Once Twice Melody”

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Deerhunter e Slowdive

Ouça: Superstar e New Romance

/ Por: Cleber Facchi 23/02/2022

Existem artistas com obras inteiras que parecem incapazes de replicar aquilo que Victoria Legrand e Alex Scally apresentam em Once Twice Melody (2022, Sub Pop). Sequência ao material entregue no psicodélico 7 (2018), registro que contou com a produção de Sonic Boom (Panda Bear, MGMT), o novo álbum do Beach House encanta pelo intenso processo criativo e volume despejado pelos dois instrumentistas. São pouco mais de 80 minutos em que a dupla original de Baltimore, Maryland, confessa sentimentos e utiliza do maior refinamento dado às melodias como estímulo para a formação de um repertório que sintetiza de forma bastante expressiva tudo aquilo que a banda têm produzido em quase duas décadas de carreira.

Entretanto, longe de parecer uma simples coletânea de ideias, o trabalho que, pela primeira vez, conta com produção assinada pelos próprios integrantes, abre passagem para um universo de novas possibilidades. Como indicado logo na autointitulada música de abertura do disco, Once Twice Melody cresce em meio a arranjos de cordas e inserções que potencializam o som produzido pela dupla. São incontáveis camadas instrumentais, melodias e vozes sobrepostas que garantem maior profundidade ao material, criando pequenas brechas para o experimentalismo de faixas como a eletrônica Masquerade e Over and Over.

Claro que esse esforço da dupla em ampliar os próprios limites em estúdio não interfere na produção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos da banda. E isso fica bastante evidente em Superstar. Enquanto os versos traçam um doloroso paralelo entre o fim de um relacionamento e uma estrela cadente (“Quando você era meu / Nós caímos pelo céu / Pode estar fora de vista, mas nunca fora da mente“), camadas de sintetizadores e guitarras empoeiras trazem de volta a força criativa explícita em obras como Bloom (2012) e Depression Cherry (2015). O mesmo resgate acontece em músicas como Sunset e Finale, porém, partindo de uma abordagem puramente atmosférica, como um regresso ao território criativo de Teen Dream (2010).

Outro aspecto bastante característico de Once Twice Melody diz respeito ao esforço da dupla em trabalhar na produção de faixas cada vez mais acessíveis, tocando de leve na música pop. São composições como New Romance, Only You Know e Hurts To Love em que Legrand e Scally investem na montagem de um repertório que continua a reverberar após o encerramento do álbum. Mesmo quando se distanciam desse resultado, perceba o esforço dos dois artistas em capturar a atenção do ouvinte por conta do refinamento dado aos arranjos, melodias e vozes, conceito reforçado em canções como The Bells, preciosidade que evoca Hallelujah, de Leonard Cohen, e a enevoada ESP, criação que parece saída de um disco do Air.

Tamanha convergência de ideias e vasto repertório fazem de Once Twice Melody uma obra de inegável beleza, porém, consumida pelos excessos. Assim como aconteceu com os complementares Depression Cherry e Thank Your Lucky Stars (2015), há sete anos, o novo álbum do Beach House poderia se dividir em dois blocos específicos de canções, garantindo ao público a possibilidade de saborear com maior atenção o material refinado pela dupla. Não são poucos os momentos em que é possível se perder pelo interior do trabalho, efeito direto do volume de composições, muitas delas preciosas, mas que parecem transbordar.

Independente dos excessos, Once Twice Melody confirma o que parecia evidente no álbum anterior: a potência criativa do Beach House. Perto de completar duas décadas de atuação, Legrand e Scally continuam tão inventivos e prolíficos quanto em início de carreira. Mesmo orbitando um universo bastante particular, conceito que se reflete não apenas na vulnerabilidade explícita nos versos, como no tratamento dado aos arranjos, timbres e melodias enevoadas, evidente é o esforço da dupla em testar os próprios limites. Um misto de conforto e necessário toque de provocação, proposta que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra e ainda abre passagem para os futuros lançamentos da banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.