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Crítica

Bethany Cosentino

: "Natural Disaster"

Ano: 2023

Selo: Concord

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: HAIM e Jenny Lewis

Ouça: It's Fine, Easy e Natural Disaster

6.3
6.3

Bethany Cosentino: “Natural Disaster”

Ano: 2023

Selo: Concord

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: HAIM e Jenny Lewis

Ouça: It's Fine, Easy e Natural Disaster

/ Por: Cleber Facchi 14/08/2023

Entre altos e baixos, Bethany Cosentino atravessou a última década aos comandos do Best Coast. Parceria com o multi-instrumentista Bobb Bruno, o projeto rendeu quatro trabalhos de estúdio – Crazy For You (2010), The Only Place (2012), California Nights (2015) e Always Tomorrow (2020) –, um vasto catálogo de composições e a possibilidade da cantora e compositora californiana em rodar o mundo com sua banda. Mesmo com todo esse histórico e rico acervo em mãos, Cosentino decidiu investir no primeiro registro em carreira solo, Natural Disaster (2023, Concord), mas a pergunta que prevalece é somente uma: por quê?

Longe do principal parceiro criativo, a artista continua a investir na construção de um material que pouco avança em relação ao repertório conquistado com o Best Coast. Da escolha dos timbres ao permanente diálogo com o pop rock dos anos 1970 e 1980, não há nada aqui que Cosentino já não tenha testado nos antigos trabalhos de estúdio. São composições que parecem pensadas para um passeio de carro pelas estradas californianas, confissões e momentos de maior vulnerabilidade emocional que se completam pelo uso empoeirado das guitarras, evocando Bonnie Raitt à Sheryl Crow, como um aceno para o passado.

A principal diferença talvez esteja no enquadramento lírico dado ao material. Em Easy, por exemplo, a sempre melancólica poesia de Cosentino deixa de lado os amores tóxicos para celebrar o amor em uma abordagem essencialmente acolhedora. “Eu odeio soar clichê e cafona / Toda vez que tenho medo de cair / Você está me puxando através de tudo / É sempre fácil“, canta. E ela não é a única. Durante toda a execução do material, evidente é o esforço da artista em tratar das próprias emoções de forma positiva, proposta que, vez ou outra, ultrapassa os limites dos versos e se estende ao tratamento radiante dado aos instrumentos.

Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Outta Time. Enquanto a letra da composição destaca o lirismo esperançoso da artista (“Eu sei que não sou o único / Alguém pode me apoiar / Porque eu tenho esperado pacientemente“), guitarras em primeiro plano, sempre alinhadas aos vocais, resultam em um power pop altamente cantarolável, como um exercício de libertação sentimental. A própria It’s Fine, vinda logo em sequência, potencializa ainda mais esse resultado, reforçando a capacidade da cantora em investir na produção de músicas sempre acessíveis, capazes de seduzir logo em uma primeira audição.

Se por um lado esse esforço em buscar por diferentes interpretações sobre velhas temáticas resulta em uma série de boas composições, por outro, abre passagem para uma sequência de faixas catastróficas. É o caso da derradeira I’ve Got News For You, música de rima pobre e mensagem tão barata que parece saída de um livro de autoajuda. “Deixe alguém te amar / Ame alguém também“, sugere a artista. Surgem ainda bizarrices como a autointitulada e já conhecida canção de abertura, uma estranha tentativa de Cosentino em mesclar os próprios sentimentos à pauta ecológica e mudanças climáticas sentidas nos últimos anos.

São justamente essas estranhas mudanças de percurso e incapacidade da artista em ir além do antigo repertório com o Best Coast que acabam diminuindo a sensação de impacto em relação ao material entregue em Natural Disaster. Mesmo as boas composições que surgem ao longo do trabalho parecem ilhadas em maio a uma sequência de faixas tão esquecíveis que o álbum desaparece por completo após o último acorde de I’ve Got News For You. É como uma tentativa de recomeço que talvez funciona no campo das ideias de Cosentino, mas que na prática perde forças e parece desaparecer a cada nova audição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.