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Crítica

Beyoncé

: "Cowboy Carter"

Ano: 2024

Selo: Columbia / Parkwood

Gênero: Pop, Country, R&B

Para quem gosta de: Solange e Kacey Musgraves

Ouça: Ya Ya, Texas Hold 'Em e II Most Wanted

8.5
8.5

Beyoncé: “Cowboy Carter”

Ano: 2024

Selo: Columbia / Parkwood

Gênero: Pop, Country, R&B

Para quem gosta de: Solange e Kacey Musgraves

Ouça: Ya Ya, Texas Hold 'Em e II Most Wanted

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2024

Ainda que a sonoridade e a estética digam o contrário, a mensagem de Beyoncé no texto que apresenta Cowboy Carter (2024) é bastante clara: “esse não é um álbum country“. E ela está certa. Muito mais do que um exercício de estilo ou uma resposta aos que se incomodaram durante a passagem da cantora pela 50ª edição do Country Music Association Awards, a mais importante premiação do gênero nos Estados Unidos, o oitavo álbum de estúdio da norte-americana mostra uma artista interessada em testar os próprios limites.

Em um intervalo de quase 80 minutos, tempo de duração do trabalho, Beyoncé se arrisca pelo country, gospel, rock, ópera e eletrônica, porém, preservando a forte relação com o R&B e o pop, suas principais vertentes criativas. O mais fascinante talvez seja perceber como mesmo imersa em diferentes estilos, a artista em nenhum momento diminui o padrão das composições. Tudo é sempre tratado com excelência. Excelência negra. Um meticuloso processo de criação que se reflete até os momentos finais do material.

Não por acaso, Beyoncé mais uma vez decidiu se cercar com os melhores instrumentistas, compositores e vozes vindas dos mais variados campos da música. São nomes como Stevie Wonder, Nile Rodgers, Jon Batiste, Pharrell Williams e Raye que surgem em momentos estratégicos do trabalho, evidenciando o já esperado refinamento técnico do material. Já outros, como os veteranos do country Willie Nelson, Dolly Parton e Linda Martell, a primeira mulher negra a conquistar o sucesso comercial dentro do gênero, ocupam uma posição de destaque, como apresentadores da conceitual rádio KNTRY que permeia o disco.

Entretanto, para além desse minucioso exercício criativo, cuidado também evidente durante a produção dos antecessores Lemonade (2016) e Renaissance (2022), a beleza de Cowboy Carter está justamente no uso de pequenas perversões e quebras de expectativa propostas pela cantora. Exemplo disso pode ser percebido em Spaghettii, canção em que parte da discussão sobre o que define um gênero musical, utiliza de elementos das trilhas sonoras do cinema de faroeste, porém, muda de direção, abre passagem para o rapper Shaboozey e ainda incorpora trechos de Aquecimento das Danadas, do brasileiro O Mandrake.

E ela não é a única. Durante toda a execução do trabalho, Beyoncé se aventura na construção de faixas que levam o disco para outras direções. É o caso de Ya Ya, música que celebra os artistas que tiveram de lidar com a segregação racial, brinca com a desconstrução do rock, interpola Good Vibrations dos Beach Boys e culmina em um fechamento catártico. A própria releitura de Blackbird, dos Beatles, inspirada pelas tensões raciais no Sul dos Estados Unidos e agora cantada por cinco vozes negras, além da curiosa adaptação de Jolene, icônica criação de Parton, evidenciam o esforço da cantora em continuamente perverter o óbvio.

Nada que prejudique a inserção de faixas dotadas de uma abordagem tradicional, como a já conhecida Texas Hold ‘Em e as colaborativas Levii’s Jeans, com Post Malone, e II Most Wanted excelente parceria com Miley Cyrus. O problema é que são justamente essas composições menos provocativas e talvez previsíveis, como My Rose, Flamenco e Desert Eagle que acabam estendendo o repertório do trabalho para além do necessário, prejudicando o acesso até acertos como Sweet ★ Honey ★ Buckiin’. É como um acumulo de tudo aquilo que a artista tem explorado nos últimos quatro anos, tempo que o registro levou para ser finalizado, proposta que resulta em alguns excessos, mas em nenhum momento diminui o brilho da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.