Image
Crítica

Big Red Machine

: "How Long Do You Think It's Gonna Last?"

Ano: 2021

Selo: Jagjaguwar / 37d03d

Gênero: Indie Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Bon Iver e Sufjan Stevens

Ouça: Phoenix e The Ghost Of Cincinnati

7.3
7.3

Big Red Machine: “How Long Do You Think It’s Gonna Last?”

Ano: 2021

Selo: Jagjaguwar / 37d03d

Gênero: Indie Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Bon Iver e Sufjan Stevens

Ouça: Phoenix e The Ghost Of Cincinnati

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2021

De uma troca de mensagens no MySpace para uma colaboração esporádica, nasceu uma das parcerias mais duradouras e bem-sucedidas da história recente da música. De um lado, o cantor e compositor Justin Vernon, o Bon Iver, no outro, o multi-instrumentista e produtor Aaron Dessner, um dos principais articuladores do The National. Juntos, os dois artistas não apenas contribuíram criativamente em seus respectivos projetos, como trabalharam no desenvolvimento de um festival, o Eaux Claires, e estreitaram a relação com outros parceiros em Day of the Dead (2016), extensa coletânea de versões produzida em homenagem ao grupo de rock psicodélico Grateful Dead. 

Entretanto, é com o Big Red Machine, título adotado para o repertório assinado em conjunto pela dupla, que Dessner e Vernon realmente fortalecem essa parceria. Mais de uma década após a primeira colaboração, em uma faixa produzida para a coletânea Dark Was the Night (2009), os dois instrumentistas se reencontram em How Long Do You Think It’s Gonna Last? (2021, Jagjaguwar / 37d03d). Segundo e mais recente trabalho de estúdio do projeto paralelo, o sucessor do registro homônimo, entregue há três anos, segue uma trilha parcialmente distinta, substituindo os momentos de maior experimentação do álbum anterior pelo diálogo com diferentes colaboradores em estúdio.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do álbum, em Latter Days. Marcada pela participação de Anaïs Mitchell, parceria da dupla em outras composições ao longo do trabalho, como na derradeira New Auburn, a faixa de essência reducionista se revela ao público em pequenas doses. São camadas de pianos, sintetizadores atmosféricos, ruídos e ambientações acústicas, estrutura que se completa pelas vozes sempre carregadas de efeitos de Vernon. Um precioso exercício criativo e sensorial que ganha ainda mais destaque na construção dos versos, sempre pautados por questões emocionais e um permanente sentimento de nostalgia, marca de grande parte da obra.

Esse mesmo cuidado fica ainda mais evidente em Phoenix. Também completa pela presença de Mitchell, a faixa que se abre para a chegada de Robin Pecknold, do Fleet Foxes, nasce como uma combinação do que há de melhor na obra de cada realizador. “Mas eu só te peguei uma vez / Mais tarde, eu observaria você e me perguntaria como seria / Como você suporta todo o peso?“, questiona a letra da canção que ganha forma em meio a orquestrações sublimes, arranjos e vozes cuidadosamente trabalhados dentro de estúdio, direcionamento também evidente na já conhecida Mimi, encontro com Ilsey Juber, compositora de nomes importantes como Beyoncé e Dua Lipa.

Mesmo cercado de colaboradores, os dois artistas em nenhum momento deixam de surpreender o ouvinte com uma seleção de faixas assumidas integralmente por eles próprios. Sobrevive justamente em The Ghost Of Cincinnati, guiada apenas pelo violão e vozes de Dessner, um dos momentos mais bonitos da obra. São ecos de Elliott Smith e Nick Drake, tratamento que potencializa os versos detalhados pelo instrumentista. A própria Hoping Then, apresentada logo em sequência, segue uma abordagem bastante similar, porém, substituindo os arranjos acústicos pela permanente fragmentação dos sintetizadores e batidas abafadas, como uma canção esquecida de Arthur Russell.

Completo pela participação de Taylor Swift, em Renegade e Birch, além de nomes como Sharon Van Etten, Ben Howard e Naeem, How Long Do You Think It’s Gonna Last? se revela ao público como uma obra essencialmente equilibrada, porém, consumida por pequenos excessos. Passado o experimentalismo explícito em Easy to Sabotage, composição que mais se aproxima do repertório entregue no álbum anterior, o trabalho começa a perder força, o que resulta em um fechamento arrastado. Mesmo a ordem das canções se revela de maneira confusa, proposta que garante à obra um ar de coletânea, rompendo com o direcionamento seguro que embala os momentos iniciais.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.