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Crítica

Black Country, New Road

: "Live at Bush Hall"

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: Art Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Black Midi e Jockstrap

Ouça: Tubines/Pigs e Across The Pond Friend

7.8
7.8

Black Country, New Road: “Live at Bush Hall”

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: Art Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Black Midi e Jockstrap

Ouça: Tubines/Pigs e Across The Pond Friend

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2023

Com a saída do vocalista e principal compositor, o músico Isaac Wood, parecia bastante natural que os membros remanescentes do Black Country, New Road anunciassem o encerramento das atividades da banda. Entretanto, para a surpresa do público, o grupo formado por Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershaw, Charlie Wayne e Luke Mark não apenas seguiu com a turnê de divulgação do álbum Ants From Up There (2022), como mergulhou na produção de um novo repertório de inéditas, estímulo para o material brilhantemente apresentado pelo coletivo inglês em Live at Bush Hall (2023, Ninja Tune).

Gravado ao vivo, em duas apresentações no Bush Hall, um clube centenário localizado na região oeste da cidade de Londres, o registro de nove faixas evidencia as novas dinâmicas do grupo que agora conta com a atuação de três vocalistas nos palcos, Hyde, Kershaw e Evens. É como um espaço aberto à interação, descoberta e busca por diferentes possibilidades, mas que em nenhum momento diminui o refinamento técnico e uso de temas orquestrais que tem sido cuidadosamente explorados pelos membros do Black Country, New Road desde a entrega do primeiro trabalho de estúdio, o elogiado For the First Time (2021).

A própria escolha de Up Song como música de abertura funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos funcionam como uma celebração à banda (“Olha o que fizemos juntos“), orquestrações sutis, metais, pianos e guitarras encolhem e crescem a todo instante, reforçando o minucioso processo de criação do coletivo. É como uma extensão natural do repertório apresentado pelo coletivo no lançamento anterior, porém, movido por uma força criativa ainda maior. Um permanente cruzamento de informações, ritmos e vozes que evidencia a potência do grupo britânico mesmo após a saída de Wood.

E essa força no processo de criação acaba se refletindo durante toda a execução de Live at Bush Hall. Em Laughing Song, por exemplo, o grupo parte de uma abordagem contida, detalhando orquestrações sutis que se completam pelo uso de pequenos acréscimos, proposta que resulta em um fechamento catártico. O mesmo acontece em I Won’t Always Love You, composição assumida por Hyde, que emula o jeito de cantar semi-declamado de Wood, porém, aos poucos se converte em uma criação totalmente nova, como uma reinterpretação do que há de melhor e mais característico no tipo de som do Black Country, New Road.

Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada Turbines/Pigs. São pouco menos de dez minutos em que o coletivo utiliza do lento desvendar de informações para conduzir a experiência do ouvinte. Uma sofisticada combinação de pianos e arranjos de cordas que concedem ao um disco um refinamento quase celestial, mas que culminam em um fechamento apoteótico. É como um ponto de ebulição que transporta o som produzido pela banda para um novo território criativo. Instantes em que o grupo britânico traz de volta a essência dos antigos trabalhos para alcançar um resultado ainda mais grandioso e comovente.

Com base nesse resultado, o coletivo não apenas demonstra maturidade e competência ao seguir sem um de seus principais realizadores, como aumenta a expectativa para o que será revelado daqui pra frente. Claro que essa potência da banda nos palcos não oculta uma série de erros bastante evidentes, como o uso de estruturas similares e vozes que ainda parecem presas ao modelo adotado por Wood. Ainda assim, passado esse momento de forte instabilidade que poderia ter dado fim ao grupo, satisfatório perceber o quanto os membros do Black Country, New Road seguem empolgados e prontos para novas empreitadas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.