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Crítica

Bruno Berle

 

: "No Reino Dos Afetos 2"

Ano: 2024

Selo: Coala Records / Psychic Hotline / Far Out Recordings

Gênero: R&B, Indie, MPB

Para quem gosta de: Mahmundi e Bebé

Ouça: Dizer Adeus, Tirolirole e New Hit

7.6
7.6

Bruno Berle: “No Reino Dos Afetos 2”

Ano: 2024

Selo: Coala Records / Psychic Hotline / Far Out Recordings

Gênero: R&B, Indie, MPB

Para quem gosta de: Mahmundi e Bebé

Ouça: Dizer Adeus, Tirolirole e New Hit

/ Por: Cleber Facchi 16/04/2024

Para além de todas as limitações técnicas e questões orçamentárias que resultaram em uma atmosfera totalmente única, No Reino Dos Afetos (2022) é uma criação movida pelo desejo do próprio idealizador, o cantor e compositor alagoano Bruno Berle, em compartilhar seus sentimentos com o resto do mundo. O resultado desse processo está na entrega de um trabalho que transcende as fronteiras do quarto em que foi gravado e dialoga diretamente com o ouvinte por meio da força das emoções expressas em cada canção.

Mas para onde seguir depois de uma obra tão sensível e que encontrou na própria captação caseira um charmoso componente estético? A resposta chega agora com a entrega de No Reino Dos Afetos 2 (2024, Coala Records / Psychic Hotline / Far Out Recordings). Segundo registro da colaboração entre o alagoano e o principal parceiro de criação, o produtor Batata Boy, o álbum de dez faixas é um trabalho talvez indeciso, mas que utiliza dessa aparente incerteza como um meticuloso componente de desenvolvimento criativo.

Para os que anseiam pelo mesmo R&B lo-fi que marca o repertório do registro anterior, Berle não apenas reserva ao público uma variedade de canções do gênero, como parece ter aperfeiçoado a própria fórmula. Exemplo disso fica bastante evidente em Dizer Adeus, composição que destaca o esforço do alagoano em brincar com o uso do auto-tune, mergulha no mesmo som reducionista de estrangeiros como Frank Ocean e Solange, porém, estabelece na vulnerabilidade explícita nos versos a principal ferramenta de trabalho.

São criações talvez compactas, porém, ricas em significado, vide o romantismo que borbulha nos versos de New Hit e a pluralidade de elementos que se escondem por entre as brechas da curtinha Sonho, uma bossa submersa que destaca a capacidade de Berle em criar delicadas paisagens instrumentais. Surgem ainda releituras curiosas, como Love Comes Back, delicada composição de Arthur Russell (1951 – 1992), músico que, assim como o instrumentista alagoano, teve parte expressiva de sua obra concebida de forma caseira.

Entretanto, sobrevive nos momentos de maior afastamento desse resultado a passagem para o que há de mais interessante e genuinamente novo no repertório de No Reino Dos Afetos 2. É o caso de Margem do Céu, canção que cheira a Rio de Janeiro, aponta para o jazz de João Donato e cresce no diálogo com os convidados Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti. A própria Tirolirole, mesmo partindo de uma base suja, encanta pelo refinamento dado aos arranjos e harmonias de vozes que ampliam os domínios do trabalho.

Partindo dessa evidente separação do trabalho em dois blocos bastante característicos de canções, Berle garante ao público um registro que segue de onde parou há dois anos, como um confortável exercício de reforço da própria identidade estética, mas que continua a avançar criativamente. Canções talvez livres da sensação de impacto e doce frescor percebido durante a montagem do repertório de No Reino Dos Afetos, contudo, orientadas pela mesma sensibilidade poética e incontestável entrega do compositor alagoano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.