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Crítica

Bruno Bruni

: "Broovin II"

Ano: 2021

Selo: Freak

Gênero: Jazz, Funk, Soul

Para quem gosta de: Ed Motta, Pluma e Garotas Suecas

Ouça: Web Namorado e Troque a Faixa

8.0
8.0

Bruno Bruni: “Broovin II”

Ano: 2021

Selo: Freak

Gênero: Jazz, Funk, Soul

Para quem gosta de: Ed Motta, Pluma e Garotas Suecas

Ouça: Web Namorado e Troque a Faixa

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2021

Broovin II (2021, Freak) é um desses discos feitos para que o ouvinte se perca dentro dele. Segundo e mais recente trabalho de estúdio do cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista Bruno Bruni, o trabalho de oito faixas faz de cada composição um objeto precioso. São incontáveis camadas instrumentais, estruturas que evocam a obra de veteranos como Hermeto Pascoal e Gilberto Gil, momentos de maior euforia e instantes de doce imersão. Um delirante catálogo de experiências sensoriais que muda de direção a todo instante, como uma interpretação ainda mais complexa do material entregue pelo músico três anos antes, durante a produção do primeiro registro de inéditas.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na colorida Troque a Faixa. Enquanto os versos discutem desejo e o aspecto cíclico do cotidiano – “Quem disse que domingo não é dia de fazer amor?” –, coros de vozes, metais e teclados se cruzam a todo instante, forçando uma audição atenta por parte do ouvinte. São pouco menos de cinco minutos em que Bruni sintetiza parte dos elementos que serão apresentados ao longo do álbum, estreita a relação com nomes como Felipe S (Mombojó) e Nico Paoliello (Garotas Suecas), e estabelece no precioso cruzamento de informações o estímulo para a construção de uma faixa que parece maior e mais complexa a cada nova audição.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como Bruni, mesmo inclinado a mergulhar em momentos de maior experimentação, em nenhum rompe com o caráter acessível e festivo do álbum. Exemplo disso acontece na divertida Web Namorado. Completa pela participação de Laura Lavieri, a canção preserva a essência jazzística e improvisos típicos da obra do tecladista paulistano, porém, estabelece na construção da letra um precioso elemento de diálogo com o ouvinte. São versos cíclicos, sempre bem-humorados, como se pensados para grudar na cabeça logo em numa primeira audição, proposta que acaba se repetindo em outras composições ao longo de todo o trabalho.

É o caso de Sonho Nas Dunas. Potencializada pelas vozes da dupla 2DE1, a canção que parece saída do excelente Manual Prático para Festas, Bailes e Afins (1997), de Ed Motta, mostra a capacidade de Bruni em lidar com os instantes. Ondulações instrumentos que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, proposta que ora utiliza de uma abordagem deliciosamente dançante, ora parece pensada para jogar com a interpretação do ouvinte. O mesmo resultado, porém, partindo de outro direcionamento criativo, acaba se refletindo minutos à frente, em Já Passou, composição que ganha ainda mais destaque por conta da voz doce de Luna França, como um complemento aos arranjos.

Mesmo quando se distancia do uso das vozes, como em New Legs, Bruni e seus parceiros de estúdio em nenhum momento rompem com a essência equilibrada do disco. Pouco mais de três minutos em que somos arremessados de um canto a outro, esbarramos em momentos de alucinante improviso, quebras e costuras rítmicas, mas sempre de forma atrativa, efeito direto da bateria ritmada e metais totalmente enérgicos, pulsantes. É como se o multi-instrumentista ampliasse tudo aquilo que foi apresentado durante o lançamento do álbum anterior, proposta que vai do tratamento dado aos arranjos ao time cada vez maior de colaboradores que brilham em momentos estratégicos da obra.

Surgem ainda composições como Banho de Sal, completa pelas vozes de Ana Passarinho, e a derradeira A Onda, música que nasce como uma combinação de grande parte dos elementos apresentados pelo multi-instrumentista ao longo do trabalho. É como um espaço permanentemente aberto às possibilidades, encontros e colaborações de essência mutável que garantem ao disco uma abordagem sempre descompromissada, leve. Um precioso exercício de aproximação que evidencia o completo domínio de Bruni durante toda a execução do material e ainda funciona como uma fuga breve da realidade pandêmica, onde o distanciamento social e a frieza das relações ainda impera.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.