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Crítica

Carly Rae Jepsen

: "The Loveliest Time"

Ano: 2023

Selo: 604 / Schoolboy / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Muna e Caroline Polachek

Ouça: Psychedelic Switch e Put It To Rest

8.2
8.2

Carly Rae Jepsen: “The Loveliest Time”

Ano: 2023

Selo: 604 / Schoolboy / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Muna e Caroline Polachek

Ouça: Psychedelic Switch e Put It To Rest

/ Por: Cleber Facchi 04/08/2023

Como manda a tradição, sempre que um novo trabalho é entregue por Carly Rae Jepsen, meses depois somos agraciados com um registro-irmão. Entretanto, enquanto Emotion Side B (2016) vinha como uma imposição da gravadora após o lançamento do bem recebido Emotion (2015), a partir de Dedicated Side B (2020), a cantora canadense passou a tratar da escolha do repertório com maior atenção. Um minucioso exercício criativo que alcança melhor resultado com a chegada de The Loveliest Time (2023, 604 / Schoolboy / Interscope), obra que não apenas serve de complemento ao material apresentado no ainda recente The Loneliest Time (2022), como abre passagem para um universo de novas possibilidades.

Diametralmente oposto ao material entregue no último ano, The Loveliest Time substitui a melancolia do registro que o antecede e as dores acumuladas durante o período pandêmico em favor de um repertório que celebra o amor e as relações humanas. “Depois de uma estação de hibernação, vem a estação do florescimento. Conheci a solidão e descobri a beleza dela. Mas agora o mundo se abriu novamente e, por sua vez, nós também“, escreveu a artista em uma publicação no próprio Instagram. E esse sentimento de libertação pode ser percebido durante toda a execução do trabalho, indo da imagem de capa aos versos.

É como se eu estivesse acordando em euforia / Minhas inseguranças são coisas que eu nunca fui / Eu era uma música triste antes da gente se conhecer / Mas, cara, seu amor é uma viagem“, confessa na radiante Psychedelic Switch, faixa que não apenas escancara o romantismo ensolarado que orienta o disco, como potencializa a relação com as pistas iniciada em Dedicated (2019). Com produção de Kyle Shearer, com quem a artista tem colaborado há bastante tempo, a canção vai de encontro ao mesmo território dançante que tem sido explorado por nomes como Dua Lipa e Jessie Ware, porém, estabelece na pulsação das batidas e linha de baixo sempre destacada um criativo diálogo com o Daft Punk da era Discovery (2001).

E ela não é a única. Do momento em que tem início, no coro de vozes da introdutória Anything to Be with You, passando pelo groove hipnótico de Shy Boy, às guitarras cuidadosamente encaixadas em Come Over, evidente é o esforço da artista em convidar o ouvinte a dançar. São composições que atravessam as pistas dos anos 1970, 1980 e 1990 sem necessariamente fazer disso o estímulo para um repertório consumido pela nostalgia. De fato, poucas vezes antes a cantora pareceu tão interessada em ampliar o próprio campo de atuação, transitando com liberdade por entre estilos durante toda a execução de The Loveliest Time.

Em Kollage, por exemplo, longe da euforia que orienta o restante do trabalho, Jepsen vai de encontro ao mesmo soul psicodélico testado por Kali Uchis no ainda recente Red Moon In Venus (2023). Nada que prepare o ouvinte para a completa aceleração e fluidez das batidas na crescente Put It to Rest. Enquanto os versos mais uma vez destacam a forte vulnerabilidade da artista (“Segui meu caminho novamente / Cheguei tão perto que não conseguia respirar / Quando você está perto de mim“), camadas de pianos se entrelaçam em meio a entalhes percussivos nunca antes explorados dentro da discografia da cantora.

Claro que essa busca por novas direções criativas em nenhum momento distancia Jepsen dos antigos trabalhos. Do pop retrô em Stadium Love, canção que parece saída do repertório de Emotion, passando pelo reencontro com Rostam Batmanglij, no som reducionista de Shadow, sobram momentos em que a artista costura passado e presente da própria obra de forma bastante sensível. Uma doce combinação de elementos que vez ou outra tende aos excessos, como nas desinteressantes Aeroplanes e Weekend Love, mas que em nenhum momento diminui a força do registro que trata de cada faixa um objeto de destaque.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.