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Crítica

Cass McCombs

: "Heartmind"

Ano: 2022

Selo: Anti-

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Kurt Vile e Kevin Morby

Ouça: Unproud Warrior e Heartmind

8.0
8.0

Cass McCombs: “Heartmind”

Ano: 2022

Selo: Anti-

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Kurt Vile e Kevin Morby

Ouça: Unproud Warrior e Heartmind

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2022

Dizer que Cass McCombs vive hoje sua melhor fase seria um erro. Observado de maneira atenta, o cantor e compositor norte-americano passou os últimos dez anos imerso em uma seleção de obras marcadas pelo refinamento dos versos e permanente busca por novas possibilidades. Da melancolia fina que escorre por entre as canções de Wit’s End (2011), passando pela versatilidade de Humor Risk (2011) e Big Wheel and Others (2013), ao amadurecimento estético que marca o repertório de Mangy Love (2016) e Tip of The Sphere (2019), sobram momentos que evidenciam a potência do som produzido pelo músico californiano.

Mesmo consciente desse forte domínio criativo e consistência que marca a obra de McCombs, difícil não se deixar surpreender pelo material entregue em Heartmind (2022, ANTI-). Mais recente lançamento do músico estadunidense, o registro de oito faixas mostra um artista tão interessante e fresco quanto em início de carreira. É como uma combinação natural de tudo aquilo que o cantor tem explorado em mais de duas décadas de atuação. A própria escolha do compositor em trabalhar ao lado de velhos parceiros, como o produtor Ariel Rechtshaid (HAIM, Vampire Weekend), serve de reforço a esse cruzamento de informações.

Da mesma forma que os registros que o antecedem, Heartmind ganha forma em meio a observações de McCombs sobre a sociedade estadunidense, diferentes personagens e conflitos pessoais. São canções marcadas pelo uso de versos descritivos, como criações em movimento que buscam acompanhar o intenso fluxo de pensamento do compositor. A própria faixa de abertura, Music Is Blue, com seus incontáveis atravessamentos e sobreposições poéticas, funciona como uma boa representação desse resultado, proposta que utiliza de diferentes abordagens criativas à medida que as composições são apresentadas.

A principal diferença em relação a outros trabalhos apresentados pelo músico, como Tip of The Sphere, está na forma como McCombs se debruça em cima de cada composição de forma a extrair o que há de melhor dentro delas. Para além do evidente refinamento dado aos versos, conceito que se reflete desde o introdutório A (2003), o artista, sempre acompanhado por um seleto time de colaboradores, mergulha na formação de texturas e incontáveis camadas instrumentais que garantem maior profundidade ao material. São canções que começam pequenas, ganham forma e crescem em um minucioso processo de criação.

Faixa-título e composição de encerramento do disco, Heartmind funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de oito minutos em que McCombs utiliza da lenta sobreposição dos elementos para capturar a atenção do ouvinte, direcionamento também explorado na densa Unproud Warrior, música que mais se aproxima do repertório apresentado em Wit’s End. Mesmo quando acelera, como na ambientação latina de Krakatau, Belong To Heaven e em Karaoke, prevalece o refinamento dado aos arranjos e coros de vozes que orientam a experiência do ouvinte do início ao fim do trabalho.

Todo esse cuidado no processo de montagem do registro garante ao público uma obra talvez livre de grandes rupturas dentro da extensa discografia do músico estadunidense, porém, fascinante durante toda sua execução. Da construção dos versos ao uso das vozes e tratamento dado aos arranjos, fica bastante evidente como McCombs parece ter alcançado um refinamento estético que faz de cada composição um objeto único. São narrativas sentimentais, cenas e acontecimentos talvez comuns nas mãos de outros compositores, mas que ganham novo significado no repertório concebido pelo artista para Heartmind.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.