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Crítica

Céu

: "Novela"

Ano: 2024

Selo: Urban Jungle

Gênero: MPB, Reggae, Soul

Para quem gosta de: Tulipa Ruiz e Luiza Lian

Ouça: High Na Cachu, Cremosa e Lustrando Estrelas

8.0
8.0

Céu: “Novela”

Ano: 2024

Selo: Urban Jungle

Gênero: MPB, Reggae, Soul

Para quem gosta de: Tulipa Ruiz e Luiza Lian

Ouça: High Na Cachu, Cremosa e Lustrando Estrelas

/ Por: Cleber Facchi 01/05/2024

Em junho do último ano, quando Arthur Verocai decidiu celebrar os 50 anos do cultuado disco de 1972, Céu foi uma das artistas convidadas a subir ao palco para cantar com o arranjador carioca. Rodeada por um vasto time de instrumentistas e a plateia que lotou o Teatro Simon Bolívar, em São Paulo, a cantora e compositora paulistana demonstrou todo seu poderio ao interpretar canções como Caboclo e Na Boca do Sol com a mesma exuberância e força das versões em estúdio. Satisfatório perceber essa mesma atmosfera ao vivo e maior fluidez no processo de criação com a chegada do aguardado Novela (2024, Urban Jungle).

Primeiro registro de inéditas de Céu em cinco anos, o sucessor do intimista APKÁ! (2019) funciona com um regresso aos primeiros trabalhos de estúdio da cantora, sempre inclinados ao reggae e ao criativo diálogo com a música brasileira, porém, substituindo o polimento de outrora pela criação de uma obra gravada ao vivo. Parte desse resultado vem da escolha da artista em, além da produção de Pupillo, habitual parceiro de criação, colaborar com o multi-instrumentista norte-americano Adrian Younge, dono do Linear Labs Studio, em Los Angeles, onde o álbum foi gravado, e conhecido por não utilizar de técnicas modernas de captação.

Partindo desse direcionamento, Céu garante ao público um registro que tem lá seus riscos, como as vozes quase inaudíveis em determinados momentos da obra e a pronúncia errada das palavras que facilmente seriam retrabalhadas em outros registros, mas que encanta e envolve o ouvinte na mesma proporção. No instante em que escutamos a contagem na introdutória Raiou (“Alright! Um, dois, três, quatro…“), somos prontamente abraçados pelo trabalho que parece encaixar uma composição na outra até os minutos finais.

Não há nada de necessariamente novo dentro da discografia da cantora, ainda mais quando voltamos os ouvidos para registros como Vagarosa (2009), porém, tudo é tratado com tamanho comprometimento e entrega por parte da artista que é praticamente impossível resistir ao material. Em um intervalo de poucos minutos, Céu vai de faixas altamente cantaroláveis, como Cremosa, a momentos de maior vulnerabilidade emocional, marca de Mucho Ôro, composição que vai de encontro ao soul explorado na década de 1960.

Entretanto, é justamente quando se entrega ao reggae, fazendo o que sabe de melhor, que Céu revela ao público algumas das principais composições do trabalho. É o caso de High Na Cachu, criação que destaca o baixo de Lucas Martins e os sempre presentes teclados de Younge, como um complemento aos versos lisérgicos da canção. Nada que diminua o impacto de faixas como Lustrando Estrela, um rock empoeirado que aponta para a década de 1970, soando como uma música perdida de Caravana Sereia Bloom (2012).

Tamanha convergência de estilos faz de Novela uma espécie de celebração à carreira e ao repertório da artista. Composições que não apenas transitam por diferentes gêneros, como ainda abrem passagem para a chegada dos mais variados colaboradores, caso da franco-senegalesa Anaiis, em Gerando Na Alta, e o cantor Loren Oden, com quem divide a bilíngue Into My Novela, faixa que destaca os arranjos de Younge executados pela Linear Labs Orchestra. Um misto de conforto e fino toque de transformação, conceito que orienta a experiência do ouvinte e destaca a riqueza de ideias que há tempos embala as criações de Céu.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.